Quinta-feira, 28 Março

«Les Combattants» (Os Combatentes) por Roni Nunes

Em vez de mais uma peça de romance fast food, o estreante Thomas Cailley foi buscar na simplicidade do quotidiano os sentimentos necessários para uma verdadeira e justificada love story. Quase sem beijos e nenhum sexo e, por isso mesmo, plena de emoções e erotismo.

Construída num tempo bem diferente daquele das enlouquecidas metrópoles urbanas, esta história passa-se numa pacata localidade do litoral francês. Por lá anda o jovem Arnaud Labrède (Kévin Azaïs), que vai aceitando com pachorrenta e otimista indiferença aquilo que o destino lhe vai reservando – como, por exemplo, ajudar o irmão a manter a empresa de carpintaria do pai recém-falecido.

Mas quando soa a brisa do verão e ele sai despreocupadamente com seus amigos patetas, quando ele “não quer nada, apenas viver ali”, é que avista-se de longe um improvável furacão: uma “Maria-rapaz” absolutamente desagradável e militarista, Madeleine Beaulieu (Adèle Haenel, de Suzanne e Apollonide – Memórias de um Bordel) empenhada em bizarras táticas de sobrevivência e munida de um arsenal de agressividade e ideias apocalípticas. Vá se lá saber porque, Arnaud interessa-se por tal figura.

O realizador francês faz um belíssimo uso de close-ups, úteis tanto para os vários momentos cómicos quanto para aqueles com que sublinha a atração crescente de Arnaud por aquela máquina de guerra – ao mesmo tempo que, apoiando-se no físico de Haenel, deixa emanar uma muito palpável sensualidade.

Cailley aproveita bem esse tempo não urbano, construindo quase que descontraída mas milimetricamente um relacionamento que o aproxima de algum cinema indie norte-americano (alguns filmes de Richard Linklater, por exemplo). O filme cai um bocado na sequência da floresta (com exceções…) mas o final é perfeito – e, como para sublinhar tudo o que se tratou até aqui, culmina com o close-up de um sorriso. Agradável, acessível e bonito.

O melhor: a construção da relação entre os protagonistas baseada em closes e pequenos gestos
O pior: algumas partes antes do final, onde o filme perde o gás


Roni Nunes
(Crítica originalmente escrita em outubro de 2014)

 

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