A ideia, enunciada nos créditos iniciais, é simples: as crianças do rico mundo ocidental não sabem o privilégio que têm em poder frequentar a escola. Isto porque, em outros locais do planeta, ter acesso ao conhecimento significa empreender verdadeiras odisseias diárias para chegar ao estabelecimento de ensino.
Estas medem-se pelos números: 15 quilómetros diários com risco de ataques de elefantes no Quénia, outros 18 a cavalo em áridas zonas da Patagónia, 22 quilómetros e quatro horas de percurso todas as segundas-feiras nas inóspitas montanhas do Marrocos e, a mais incrível de todas, os dois garotos de uma aldeia próxima ao Golfo de Bengala, na Índia, que fazem mais de uma hora de trajeto todos os dias a empurrar uma cadeira de rodas levando o irmão que não pode caminhar.
Felizmente o realizador Pascal Plisson teve sensibilidade suficiente para saber que já tinha histórias fortes que bastassem para abster-se de carregar na tecla do sentimentalismo fácil – ou não fossem elementos como crianças, heroínas e jornadas emocionais os ingredientes certos para uma receita do caos.
Por outras palavras, se este A Caminho da Escola não se lança a maiores voos, pelo menos o espectador está salvaguardado de uma indigesta abordagem etnocêntrica, indulgente e açucarada das misérias alheias. Com uma obra tecnicamente correta, que ainda assim não evita certos artificialismos, Plisson consegue reunir algumas belas imagens que reforçam a pequenez das crianças diante de uma natureza de um gigantismo avassalador.
O realizador, aliás, que levou três anos entre filmagens, deslocações e montagens, revelou mais em entrevistas do que aqui – onde não pretendeu abordar a todos os tipos de abusos a que estes e outros garotos estão sujeitos. Afinal, como se sabe, os humanos são muito mais perigosos aos mais pequenos do que qualquer elefante.
O melhor: como não poderia deixar de ser, as crianças
O pior: não escapa ao demasiado simplismo da ideia principal
Roni Nunes
