Sexta-feira, 19 Abril

«American Vagabond» por Roni Nunes

“Eu pensava que São Francisco era algo como o paraíso na Terra. Mas depois de lá estar percebi que, afinal, tudo era cinzento”. A constatação amarga de uma personagem a meio do filme resume apenas um dos desencantos que comete o protagonista desta reconstituição documental de um particularmente doloroso e azarado processo de coming out

James, de apenas 17 anos, termina por fugir da casa dos pais, numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos, depois de ser duramente repelido pela família após assumir a sua homossexualidade. Acreditando ingenuamente que a meca gay em termos de montra mundial era o lugar ideal para ele e para o namorado, é para lá que ele ruma um dia olhando com desprezo para o provincianismo que deixa para trás.

Mas aos primeiros tempos de alívio por poderem andar de mãos dadas sem ouvirem gritos de “faggots“, o que lhes aguarda é a dura realidade dos sem-abrigo – uma vez que, antes de cidade liberal, São Francisco é uma cidade capitalista, sem margem de manobra para quem não tem dinheiro. O mais incrível é que depois de arrastarem-se por parques e instituições, passarem frio e fome, o destino ainda reservava mais uma duríssima prova para James.

A realizadora Suzanne Helke reconstrói a história com narração em off na primeira pessoa pelo protagonista, intercalando imagens realistas com longos travellings de caráter expositivo ou buscando insistentemente um simbolismo nas florestas e parques que servem de abrigo aos exilados. A caminho do fim, ainda sobra tempo para o retrato de toda uma família dilacerada pelos preconceitos e pelos valores religiosos obtusos. “Nós não estávamos dispostos a aceitar algo que nos parecia contra a natureza, contra os nossos princípios morais”, diz a mãe de James.

O MELHOR: uma história forte em si
O PIOR: uma construção visual/formal/dramática apenas razoável


Roni Nunes

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