Sábado, 20 Abril

«Escobar: Paradise Lost» (Escobar: Paraíso Perdido) por Paulo Portugal

Se procuram em Escobar: Paraíso Perdido (Escobar: Paradise Lost) o biopic sobre o infame narcotraficante Pablo Escobar, esqueçam. É que o filme fica-se apenas por um esboço do canalha sanguinário devotado a Deus e à família, dando antes o protagonismo ao romance ficcionado entre um surfista inocente e a filha de ‘El Patrón’.

Como?! É simples. Na sua estreia como realizador e argumentista, o ator italiano Andrea Di Stefano – vimo-lo no papel de sacerdote em A Vida de Pi – tira partido da chama crescente de Josh Hutcherson, o herói masculino de Jogos da Fome, e, naturalmente, subalterniza o papel que Benicio del Toro poderia ter arrancado como Pablo Escobar. Sejamos claros, o filme pode ser mau, mas a receita de bilheteira poderá muito bem justificar tal opção narrativa. E pela histeria impressionante a que assistimos em redor da presença de Hutchinson, de apenas 21 aninhos, em San Sebastián para promover o filme, ficamos ainda mais convencidos dessa possibilidade.

Nick (Hutcherson) é um jovem canadiano que vem procurar o irmão Dylan (Brady Corbet) nas praias paradisíacas da Colômbia). Só que em vez de investir o seu tempo a dar aulas de surf acaba por se envolver com Maria (Claudia Traisac), a filha de Escobar. O filme até começa por apresentar Pablito Escobar como um autarca de obra feita e querido do povo. E como tantos alcaides com um gosto particular pelo ouro. Quando Nick questiona Maria “de onde vem tanto dinheiro?”, a mocinha responde com inocência “é da venda da cocaína para os ianques“. Ainda que a pobrezinha esteja segura de que “o papá é boa pessoa e só quer o bem da família e da comunidade“.

A imagem de um Escobar temente a Deus que temos no início do filme mantém-se mesmo quando se prepara para se entregar às autoridades. Só no flashback que se segue o veremos, ainda que em versão reduzida, como um verdadeiro criminosos sanguinário. Teremos algumas alusões ao seu maquiavelismo, é certo, como na cena em que manda despachar um gangue de trafulhas que queria extorquir dinheiro aos surfistas para acampar na praia. Ficaremos a saber que foram enforcados e queimados vivos.

Na verdade, dada a dimensão daquele que ficou conhecido por ‘El Patrón’, ‘El Doctor’ ou simplesmente ‘Don Pablo’, poderia pensar-se que Escobar estava mais calhado a uma fita de maior espessura. E nem seria necessário ter a dimensão de O Padrinho ou mesmo Scarface, mas, no mínimo, algo que justificasse o peso habitual das composições de Benicio del Toro, ele sim, a aflorar uma dimensão próxima a Don Corleone.

Só lá mais para o final do filme é que o sangue começará a correr. Oportunidade também para Hutcherson confirmar que não tem envergadura para homem de ação, quando se apercebe que existe um plano para o liquidar. Já de Benicio pouco há a acrescentar. O ator que recebeu um prémio de carreira em San Sebastián pouco mais pode fazer que compor um esboço de vilão. Ficamos-nos apenas pela forma sibilina como dispõe da vida de muitos ao mesmo tempo que conta ao filho bebé a história de Mowgli e o seu destino em O Livro da Selva.

A pesar da oportunidade gorada de ilustrar esta personagem, sabemos já que a vida de Pablo Escobar terá um novo fôlego. Justamente com o brasileiro José Padilha ao comando da série Narcos e com o galã Wagner Moura no protagonismo. A rodagem está marcada para o ano que vem na Colômbia. Afinal há esperança.

O melhor: Benicio del Toro é sempre bom, mesmo quando é cabotino
O pior: Perceber como a Josh Hutcherson ainda lhe falta a espessura para tal protagonismo


Paulo Portugal
(Crítica originalmente escrita em setembro de 2014)

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