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«Éden» por Paulo Portugal

Mia Hansen-Love é seguramente a realizadora mais ‘hip’ do momento. E desde O Pai dos Meus Filhos, o seu segundo filme, de 2009, que deixou de ser encarada apenas como a namorada de Olivier Assayas ou a ex-crítica dos Cahiers do Cinema, para que se salientassem as suas virtudes como realizadora.

Com Eden, a a sua quarta entrada – três anos após o muito romântico Um Amor de Juventude – consolida a sua filmografia e confirma o estatuto de maturidade com um notável filme de geração. Que até nem sequer fica muito atrás do estilo de construção e narrativa de Depois de Maio, o filme geração do marido Olivier.

Depois da sua recente passagem por Toronto, Eden aterra em San Sebastian e logo acrescenta um novo ritmo à competição, com este um documento de inebriante fundo musical, mas que deixa as suas marcas sobre inconstância da vida. E ao som da melhor banda sonora possível. Ah, e com a presença dos Daft Punk que aparecem por várias vezes, mas sem que ninguém os conheça. E também com presenças especiais de Greta Gerwig, Arsinée Khanjian ou Brady Corbet.

Um filme sobre a música electrónica, no caso sobre o nascimento do ‘garage’, um subgénero mais disco da house music? Porquoi pas?, terá pensado Mia que pediu até ajuda ao mano DJ Sven para dar uma ajudinha no guião. A verdade é que ao longo de mais de duas horas deixamo-nos inebriar num longo ‘set’ de tecido musical que percorre os cerca de 20 anos e em que seguimos Paul (Félix de Givry) que troca uma pós graduação em literatura para perseguir o sonho de ser DJ. Durante esse percurso, forma o duo Cheers , com o seu amigo Greg e faz nome na noite e na cena parisiense e novaiorquina. Pelo meio vive diversos relacionamentos, um convívio muito próximo com cocaína e sempre uma paixão por um ‘beat’ sensual.

Sensual é mesmo a marca deste filme sem preocupações de tentar definir uma época de um ponto de vista sociológico, ainda que se perceba alguma nostalgia ou até alguma pegada de desencanto que se seguiu depois de encontrar o tal éden. Um caso sério de bom gosto, não só do ponto de vista musical mas igualmente suportado por uma câmara ágil mas que evita o pretensiosismo.

O melhor: O inebriante tecido musical que acompanha uma fúria de viver
O pior: Quem não entrar no ritmo do filme poderá salientar o peso dos 131 minutos


Paulo Portugal
(Crítica originalmente escrita em setembro de 2014)