Quarta-feira, 24 Abril

«La Isla Mínima» por Hugo Gomes

A primeira impressão, e talvez a única relevante, que podemos constatar em La Isla Mínima é que a região da Andaluzia é um “pequeno” paraíso a ser visitado o quanto antes, porque de resto, deparamos com um “thriller local” contagiado pelas diversas influências e “tiques” do cinema do género, ou na maior das hipóteses pela resposta televisiva ao mesmo. No final da sessão do Festival de San Sebastian, as comparações foram de tudo; desde a elogiada minissérie True Detective, passando por Fargo dos Coens, até aos policiais franceses em que Jean Reno é o rei. La Isla Mínima foi concebido para agradar os aficionados do subgénero sem grandes desafios, visto que estruturalmente é um filme modelizado e bem arquitetado com os elementos de sucesso.

Esta ambiciosa produção espanhola remete-nos inicialmente para belas imagens topográficas da região, a fim de ambientar o espectador aos climas amenos e húmidos nos quais decorrerá a trama. Seguidamente surgem-nos os lugares-comuns: duas jovens desaparecem sem deixar rasto e a missão de encontrá-las é confiada a dois detectives (Javier Gutiérrez, Raúl Arévalo), ambos marcados por passados negros.

O realizador Albert Rodriguez (Grupo 7) é oriundo da mesma região que serve de cenário a La Isla Mínima, o que explica as constastes demonstrações de fascínio visual e descritivo, como a forma desolada com que transforma esta região paradisíaca num ápice. Mesmo sendo competente no ritmo e não poupando na violência (graças aos céus que não é nenhuma produção apelativa a jovens), este thriller percorre os mesmos trilhos que muitos congéneres já o fizeram. A solução para salientar La Isla Mínima foi apresentar personagens devidamente fortes para marcar a mente do espectador, mas infelizmente o resultado ficou-se pelo mero esboço. Promissores sim, mas limitados a isso (influenciando também os desempenhos eficazes, mas não transversais).

O enredo ainda possui outra desvantagem. A sua intensidade é desvanecida com a chegada do esperado e grande climax, deixando demasiadas “pontas soltas” e as expetativas da audiência no abandono. Depois ainda temos direito a um twist pouco antes do desfecho, já esperado, confesso, e que nada de novo ou relevante acrescenta ao teor deste thriller meramente visual. É verdade que ninguém é inocente neste mundo de aparências e hipocrisias, mas porquê continuar a afirmá-lo somente com o óbvio maniqueísmo?

O melhor – o visual, as sequências topográficas
O pior – demasiado modelizado, não corre sangue novo nas veias


Hugo Gomes

Notícias