Sexta-feira, 26 Abril

«Vincent n’a pas d’Écailles» por Hugo Gomes

Quem não gostaria de ser mais do que um mero mortal, quem nunca imaginou ter … superpoderes? Uma pergunta a qual qualquer pessoa responderia sim sem hesitar, ainda mais influenciado com a vaga de super-heróis que tem atacado a indústria cinematográfica nos últimos anos. Com estas questões acima referidas, surge outra – o que fazer com tais especialidades? Salvar o mundo, praticar o Bem ou o Mal ou apenas tê-los para uso próprio e jubilante? Para Vincent, apenas ser discreto para que o resto da civilização não descubra é o suficiente.

Realizado, escrito e protagonizado por Thomas Salvator, Vincent n’a pas d’écailles leva-nos a uma distopia sem a espetacularidade dos filmes Sui generis desta temática, tornando o arquétipo do sobre-humano em algo marginal e talvez indiferente em termos apelativos. Nesse aspeto, visto ser uma primeira obra e de baixo orçamento, a abordagem dessa temática num filme sujeito a essas condições revela-nos um desafio produtivo, tendo em conta que é adicionada outra vertente, a do realismo. Pois bem, nada de alienígenas vindos do espaço, artefatos misteriosos e abençoados nem picadas por animais radioativos. Vincent é possuidor de uma força, agilidade e velocidade acima de qualquer ser humano normal, atributos, esses, despertados em contato com a água. Quanto à explicação para a origem desse evento – um total mistério.

Eis um filme que funcionaria na perfeição se Thomas Salvator soubesse realmente o que pretendia. Por outras palavras, o desafio da produção é superado, visto que o polivalente realizador é, para além de tudo, um exímio acrobata e alpinista, o que facilita no ato de demonstração de tais poderes. Contudo não sabe o que fazer com o material. Tudo acaba por ser um espectáculo exibicionista e narcisista, quase circense, emancipado por uma narrativa episódica e ausente de qualquer emocionalidade nem rigor estrutural. Parece que Thomas Salvator confundiu conduzir uma história minimamente decente com uma coletânea de paisagens naturais e que, por sorte, apresenta mais química e expressividade que o próprio protagonista.

Aliás, falando em química, Vincent n’a pas d’écailles é minado com um romance risível e igualmente isento da mesma. Ainda para juntar “à festa”, há carência de personagens, meros bonecos inumanos, sem carisma nem objetividade, ditados por desempenhos figurativos. Bem, parece que não existe herói algum que seja capaz salvar esta pseudo fantasia, destinada a grandes feitos, de um desastre artístico.

O melhor – o desafio de fazer um filme com tal tema e em baixo-orçamento
O pior – desconexo narrativamente e sem profundidade

                                                                                                       
                                                                                                            Hugo Gomes

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