Sábado, 20 Abril

«Hoje eu Quero Voltar Sozinho» por André Gonçalves

 

Há uns anos atrás, uma curta-metragem brasileira sobre um rapaz cego que se apaixonava por um colega de turma tornou-se de tal forma viral – tendo arrecadado um sem-número de Prémios do Público em diversos Festivais (Queer Lisboa incluído) – que o realizador Daniel Ribeiro decidiu pegá-la e estender para uma longa-metragem. Ele o fez mantendo a história e o trio de atores principais, aprofundando a situação e alterando apenas o sentido do título. À partida, o sucesso está garantido, com o Teddy Award e o Prémio FIPRESCI do Festival de Berlim. Mas será que valeu verdadeiramente a pena esta expansão sobre a obra-prima que era a curta-metragem?

Para responder melhor a esta pergunta, decidi rever a curta logo após o visionamento. E a resposta é um claro… nim. Por um lado, houve aqui um cuidado muito especial em fazer este filme, i.e., não se tratou simplesmente de repetir a curta “tomada a tomada” e acrescentar-lhe 75 minutos de cenas eliminadas. Por outro, se mantém muito do charme do filme original e o trio de protagonistas continua irrepreensível, perde um pouco do poder de contenção e de síntese, o que ganha na chamada “profundidade” e pela introdução de Belle and Sebastian vs. música clássica na banda sonora. Só para dar dois exemplos para defender este ponto, não há por aqui uma sequência tão genial como a última da respetiva “curta”, e uma sequência de sonho na “longa” torna-se algo intrusiva, por muito bem feita que seja.

Ainda assim, parece que estou a ser demasiado injusto comparar filmes que agora pertencem a ligas diferentes, é certo. E na liga das longas-metragens sobre o “coming out“, convém salientar, não vejo grandes obras presentes neste ou em qualquer festival LGBT de 2014 capazes de fazer jus ao encanto e pura simplicidade desta, que continuará a conquistar pontos por charme e originalidade q.b (sobretudo para quem venha “às escuras”). Adivinham-se mais prémios do Público por todo o mundo, portanto… e quiçá, uma nomeação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

O melhor: O charme global, reforçado pelo trio de jovens atores.
O pior: Ter a sombra da curta-metragem genial que o precedeu sempre a segui-lo, por muito que tente.

                                                                                                          
                                                                                                       André Gonçalves

Notícias