Talvez Ju-on de Takashi Shimizu seja um dos mais assustadores contos de fantasmas transpostos para o cinema no novo Milénio. Um autêntico fenómeno de culto que usufruiu como influência de diversos mitos urbanos nipónicos, incluindo alguns elementos tradicionais como maldição segundo o folclore japonês. Para os espectadores menos concentrados nos nichos cinematográficos desse país, Ju-on é sinónimo de The Grudge, o remake norte-americano produzido por Sam Raimi que o próprio Shimizu não deixou escapar, dirigindo um igualmente sinistro filme que aterrorizou as audiências mais ocidentais. Porém, tal legado “emprestado” foi abalado pela produção de duas sequelas nada entusiasmantes e cansativas (a última tendo sido lançado direct-to-video) que ditaram o fim do franchising … pelo menos nos EUA.
No Japão, Ju-on encontra-se vivo e já conta com a sua sétima aparição, desta vez sem o seu criador original, Shimizu, mas sob a alçada de Takashige Ichise, produtor de outros êxitos do J-Horror como Ringu e Dark Water (ambos de Hideo Nakata). Neste novo filme, sentimo-nos num pleno jogo de xadrez. O tabuleiro e as peças são as mesmas, apenas a estratégia é diferente. Com isto quero dizer que, e segundo o propósito do projecto, encontramos um reboot do Ju-on original, onde a história e certas situação diferem da mesma, embora as referências estejam na integra. Assim, este é um revisitar dos lugares comuns ditados pela obra de Shimizu, e para quem acompanha a saga desde os seus primórdios sentirá um verdadeiro aborrecimento, sem surpresas nem força para contornar o já descrito.
A juntar a isso tudo, temos uma incompetência por parte do realizador Masayuki Ochiai em transmitir os sustos, reduzindo tudo a um precoce jogo de sons (a banda sonora é novamente o elo de manipulação com os sentimentos dos espectadores) e, nalguns casos, como na sequência final, o ridículo toma conta do enredo. Será tudo isto sinal de cansaço?
O melhor – A tentativa de contar uma nova história com elementos velhos
O pior – o resultado dessa tentativa
Hugo Gomes
