Sábado, 20 Abril

«A pigeon sat on a branch reflecting on existence» (Um Pombo Pousou Num Ramo a Reflectir na Existência) por Fernando Vasquez

Como descrever um filme que é sobre nada mas tem tudo o necessário para ser uma obra-prima? É uma tarefa ingrata, quiçá mesmo impossível, mas esta é a oferenda que o mestre do cinema sueco contemporâneo, Roy Andersson, ofereceu à critica em Veneza com A pigeon sat on a branch reflecting on existence.

O capítulo final da trilogia iniciada com Songs from the second floor e complementada pelo sucesso You the living, poderá ser o mais acessível dos três filmes, mas não necessariamente o mais lógico. Alias, lógica não entra no vocabulário cinematográfico de Andersson, um cineasta pouco preocupado com narrativa, preferindo a criação de ambientes e situações que se confundem entre a comédia e a critica social.

Apesar de não existir uma linha narrativa coerente, Roy Andersson é um pequeno grande génio na criação de personagens. Em A pigeon sat on a branch reflecting on existence somos confrontados com várias, cada uma mais deliciosa do que a outra. Igualmente fabulosas são as situações em que elas se encontram, tão banais como criticas exemplares à existência escandinava, sempre regados com um sentido de humor perspicaz e negro, tão típico da região.

Dos muitos argumentos presentes neste filme que nos relembram porque é que Roy Andersson se tornou numa figura mítica, o mais notável é possivelmente a sua atenção ao detalhe. Não faltam exemplos, ao longo da historia da sétima arte, de realizadores com semelhante talento, mas mesmo assim Andersson não deixa de ser uma exceção. A tendência de apresentar planos aparentemente vazios, mas que na realidade estão completos de ações dentro de ações, completando um quadro repleto de camadas e sub-camadas apenas percetíveis aos mais atentos. Ao primeiro olhar a imagem é sempre suficientemente lenta e simplicista, de forma a permitir uma inspeção pelos cantos do ecrã, numa incessante procura por mais informação, por histórias dentro da história, que os seguidores do artista sueco aprenderam que, embora discretas, estão sempre presentes e são fundamentais. É um jogo que Andersson estimula a cada movimento e, suspeito, que com um sorriso maléfico na cara.

A pigeon sat on a branch reflecting on existence, depois de uma primeira hora de arrasar e levar a audiência ao delírio, perde, até certo ponto, o fio à meada na fase final, quando tenta atribuir um pouco de sentido a uma trilogia cujos os único traços unitários são o surrealismo e absurdismo. No entanto, não chega a ser suficiente para desvirtuar o processo de um realizador que diga-se o que se disser, ocupará sempre um lugar muito especial no universo do cinema Europeu.


Fernando Vasquez

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