Sábado, 20 Abril

«Hereros Angola» por Hugo Gomes

Em Hereros Angola “viajamos” ao encontro dos povos residentes do sudoeste angolano, os homónimos descendentes das tribos bantos, nómadas em busca do seu próprio Éden. Porém, mesmo longe da civilização e todos os factores que este pode trazer consigo, tal não evita que as tradições dos Hereros sejam abalados por esta globalização “disfarçada” que culmina uma gradual extinção deste grupo etnográfico.

Um documentário da autoria do brasileiro Sérgio Guerra que tem como intuito registar os mais diversos testemunhos, quer oratórios (vindos dos seus anciãos e outros membros destas tribos), quer sonoros e até mesmo visuais, que complementem a um ciclo de tradições transferidas de geração para geração, por meio do conhecimento e da descendência. Tradições essas, não vistas com bons olhos pelas culturas ocidentais, e sob essa vertente, Sérgio Guerra provoca susceptibilidades, desafiando o espectador com a crueza das imagens que vão ao encontro com o quotidiano da tribo. Sejam eles abates de animais, funerais, circuncisão, nascimentos e outros gestos tradicionais que anunciam a chegada do adulto. Tudo isto é presenciado numa alternada narrativa que procura acima de tudo dar a esta tribo, não o julgamento, mas sim a compaixão por parte do espectador, o que nem sempre é viável devido à estranheza de costumes.

Mas logo os registo mudam e a temática torna-se outra: a relação matrimonial, o sexo e a natureza do compromisso conjugal, temas esses que, mesmo em cenários divergentes, se convertem em similaridades com o nicho que até ao momento havia condenado este povo nómada, agora sentindo uma afinidade em buscar analogias. A verdade seja dita, são bons os momentos que este Hereros Angola ocasionalmente oferece, muitos dos quais no preciso momento que tenta afastar do modelo televisivo do documentário, o que não consegue em grande parte do tempo. Assim sendo, temos um documento percetível, visualmente belo mas ausente de uma alma criativa. É que as tradições dos Hereros poderiam invocar um certo misticismo.

O Melhor – os testemunhos e as imagens
O Pior – não se diferencia da veia televisiva do documentário


Hugo Gomes

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