Quinta-feira, 25 Abril

«Les Combattants» por Bernardo Lopes

A vida é como uma zona de guerra em que o amor é o gatilho. É com esta premissa em mente que Arnaud (Kevin Azais) e Madeleine (Adèle Haenel) estabelecem uma relação de autoconhecimento, toda ela centrada no desejo de se desviar da sociedade e do natural e humano problema da entrada na idade adulta. No entanto, é o humor cheio de ironia ligado a uma linguagem suave que tornam Les Combattants numa comédia romântica extraordinariamente descontraída e agradável.

A primeira longa-metragem de Thomas Calley, cuja ação tem lugar numa aldeia do sudoeste de França, começa com Arnaud a ser atirado ao chão num ataque de autodefesa da maria-rapaz da terra, Madeleine. É uma jovem rebelde e arisca cuja ambição é tornar-se numa sobrevivente – no sentido literal do termo. Coincidentemente, Arnaud começa a trabalhar como carpinteiro em casa dela e começa a apaixonar-se por esta mulher ainda um pouco imatura mas que o convence a inscrever-se num curso especial de intenso treino militar.

A sua verdadeira coragem revela-se apenas na última parte deste filme com hora e meia de duração. Desde a sua chegada ao campo de treino, que ficamos com a impressão de que os seus papéis se invertem à medida que ambos lutam pela sua autonomia e liberdade. Tal deve-se, sobretudo, ao facto de que, nas suas descobertas, eles passam a revelar reações opostas: Madeleine torna-se mais vulnerável e Arnaud mais forte e confiante.

Adéle Haenel, atriz premiada com um César pelo seu papel de atriz secundária em Suzanne, teve um trabalho árduo pela frente. Moldada para interpretar uma adolescente fria e distante, o papel de Madeleine é fortemente interpretado por esta jovem estrela que nos oferece um desempenho em parte um pouco dramatizado demais mas convincente.

Surpreendentemente, o ator principiante, Kevin Azaïs, comprova em absoluto o seu talento através de um promissor desempenho que merece ser referido. Complementarmente, a autenticidade da afinidade que existe entre ambos é o fator mais apreciado em Les Combattants.

Pese embora o filme atingir o seu objectivo, Les Combattants não merece grandes elogios se o analisarmos sob a perspetiva de uma obra de arte. Apesar da cena em que Arnaud e Madeleine se beijam carinhosamente no bosque, Cailley manifesta um desejo de se deixar levar pelos seus instintos. Ele despreza a forma do filme em absoluto, usando a câmara como mero intermediário entre a audiência e a história, recusando-nos a sua sensibilidade e visão.

O seu deslustre, para o mal e para o bem, pode ser considerado como o elemento chave que o pode tornar especial. Isto porque o seu insípido argumento nos faz questionar sobre a sua duração enquanto longa-metragem, quando poderia ter servido como uma curta-metragem. Acresce que o tema de Les Combattants está excessivamente focado na química entre este casal, quando melhor tinha sido se se tivesse limitado a concentrar-se nas suas personalidades e reações instintivas em relação às situações com que se veem confrontados.

Esta comédia romântica falha em se assumir como uma obra de arte – não se aconselha aos apreciadores de arthouse. Contudo, trata-se indiscutivelmente de um comédia promissora, muito ao estilo de Hollywood, e tendo conseguido uma reação efusiva após a estreia como um bom argumento, Les Combattants tem todas as razões para se tornar num sucesso comercial e de fazer com que os espetadores não resistam ao seu charme, como o seu título em Inglês sugere – Love At First Fight.

O melhor: A relação entre Arnaud e Madeleine
O pior: A sensação de o resultado “deixar muito a desejar”.


Bernardo Lopes

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