Sexta-feira, 19 Abril

«Impunidades Criminosas» por Hugo Gomes

Impunidades Criminosas, de Sol de Carvalho, é a extensão de uma homónima curta-metragem que fora apresentada no FESTin em 2012. Como longa esta obra moçambicana funciona como uma persistência da sua mensagem, a emancipação da mulher numa cultura tradicionalmente marcada por homens.

Sob esse pretexto, Impunidades Criminosas cresce como um misto de thriller que nos remete à história de Sara (Esperança Naene), uma mulher farta dos maus tratos por parte do marido, Armando (Breznev Matezo), que do dia para a noite decide resolver os seus problemas pela raiz, ou seja, matar o seu homem à “paulada” e esconder o corpo.

Porém, Sara desconhecia que o seu agora falecido marido fazia parte de um gangue bastante temidao nas sua vizinhança. Liderado pelo igualmente Chiquinho Paixão (Eliot Alex), o gangue decide reclamar algo que só Armando sabia o paradeiro. Para conseguir proteger a sua família das ameaças que se avizinham, Sara terá que lidar com os seus fantasmas.

Sol de Carvalho maneja um filme de baixo-orçamento movido por uma ideia, e essa ideia que persiste em toda a sua narrativa de teor maniqueísta. Contudo, isso é conseguido com uma ausência de dimensão dramática. Na verdade, este “panfleto” cinematográfico sobre a violência doméstica e opressão às mulheres está rodeado por delicadas sugestões de cinema, como por exemplo: uma câmara viva que ocasionalmente faz “milagres”, uma atmosfera que injeta num panorama social o misticismo tradicional de Moçambique e uma impagável Lucrecia Paco como a doida da aldeia, talvez a única prestação genial num elenco ditado pela boa vontade e nada mais que isso. Aliás, e para sermos esclarecedores, é sob as boas vontades que este novo filme de Sol de Carvalho assenta, e sob essas condição não há crime nenhum, porém nada impunível. Ainda assim, Impunidades Criminosas é uma pequena mostra do cinema que se faz escassamente em Moçambique.

“Bateu, bateu … Morreu, morreu … Eu vi”

O Melhor – Lucrecia Paco e as boas intenções
O Pior – Infelizmente as boas intenções e vontades não fazem um filme


Hugo Gomes 

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