Sexta-feira, 29 Março

«La mafia uccide solo d’estate» (A Máfia só Mata no Verão) por Roni Nunes

Uma piada no início do filme, onde o narrador da história afirma que a máfia siciliana teve um papel decisivo no encontro entre o espermatozoide e o óvulo que lhe deram origem, estabelece os parâmetros daquilo que pretendeu o realizador Pif (abreviatura de Pierfrancesco Diliberto) no seu filme de estreia: mostrar a organização criminosa não apenas como uma entidade marginal da sociedade do sul da Itália, mas como um organismo que infiltra-se em todos os aspetos da vida dos italianos desta região.

O mais curioso é que no centro do enredo está uma banal historieta de amor infantil, com a narração em off do protagonista, Arturo (Alex Bisconti), a contar a suas peripécias de criança quando tentava conquistar uma colega de escola. Sempre prejudicado pelos acontecimentos externos (um pretexto bastante interessante para mostrar os massacres, tiroteios, explosões e execuções de juízes, polícias e políticos que faziam o quotidiano de Palermo nos anos 70), Arturo tem de se contentar com uma promessa de celibato para “toda a vida”.

Abordagem original deste tema gasto, onde a real tragédia da existência da máfia (de resto magistralmente descrita no livro de Roberto Saviano, Gomorra) não é mostrada na sua vertente policial, mas numa comédia sarcasticamente intitulada “A Máfia só Mata no verão”. Esta opção, longe de tirar seriedade ao tema, torna-o ainda mais dramático.

Divertido e inteligente, perde um pouco de gás na fase adulta do protagonista, mas termina com uma bela homenagem aos heróis caídos na luta com um inimigo sinistro – que continua mais forte do que nunca.


Roni Nunes

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