Alain Resnais e Marguerite Duras criaram em 1959 um filme quer iria ditar o rumo do cinema, Hiroshima, Meu Amor, aquele que seria um dos “sopros ” cruciais do Novo Cinema Francês e com isso uma nova perspectiva de fazer filmes. Resnais havia prometido aos seus produtores um documentário, mas o que conseguiu foi um misto, um híbrido que conecta o realismo de uma cidade sucumbida do dia para a noite com as fugas do passado da sua protagonista. O resultado foram dois atores profissionais que se envolveriam num ambiente que é tudo menos ficcional. Seria herege comparar La Mia Classe, de Daniele Gaglianone, com a obra-prima de Resnais e Duras, mas a verdade é que ambos estabelecem uma fronteira cada vez mais estreita entre o que é ficcão e real.

No filme, Valerio Mastrandea desempenha um professor que ensina a língua italiana a uma turma de imigrantes. Os imigrantes fazem deles próprios, pois estão convictos de integrarem o “elenco” de um documentário. A verdade é que o conteúdo do produto documental em si é dissipado e guiado pela “traição”, porque o realizador permitiu uma captação do real, ou seja as câmaras continuaram a filmar nos momentos que supostamente deveriam parar. Gaglianone consegue com isto um exercício que desafia o espectador a confrontar-se com os medos e situações com que esta turma multicultural se depara, não nas aulas filmadas, mas no seu quotidiano, questionando que por trás de um estereotipo ou de um cliché existe uma cara, e mais, uma experiência de vida.

São pessoas reais manipuladas e convencidas a pertencer a um mundo ficcional, mas que mesmo sob essa vertente fictícia comportam-se somente como eles próprios, peões numa realidade constantemente moldável que levam consigo um “intruso” (Valerio Mastrandea).

Pontuação Geral
Hugo Gomes
la-mia-classe-por-hugo-gomesUm curioso exercício de diluição de fronteiras cinematográficas