Quinta-feira, 18 Abril

«L’Intrepido» por Roni Nunes

A precariedade do mundo laboral é personificada na existência quase irreal do protagonista, Antonio Pane (Antonio Albanese). A sua função é substituir empregados, nas mais variadas funções, que faltam ao trabalho. Assim, sem um contrato a longo prazo nem qualquer estabilidade, ele circula por uma grande cidade a fazer as mais diversas funções – desde vender pizzas até conduzir elétricos.

O veterano Gianni Amelio desenvolve, em ritmo lento, um filme com uma forte carga existencial, numa construção visual onde Milão aparece como um cenário gélido, repleto de desolação e onde as figuras humanas surgem recortadas e isoladas na paisagem. Antonio Pane paira como uma espécie de anjo pelo mundo industrial da cidade, onde as condições bem reais de trabalho precário (ele percorre fábricas de diversos géneros, estaleiros e até estádios de futebol) estão interligadas com os destinos de algumas personagens que cruzam o seu caminho.

Os tons escuros de um filme marcadamente sombrio são contrabalançados por um protagonista que, num misto de ingenuidade e resignação, tenta influenciar o mundo que o circunda não através da revolta, mas de uma postura placidamente otimista. Isso ocorre mesmo quando ele se depara com desgraças diversas – como suicídios, pedofilia, corrupção, lavagem de dinheiro e o sofrimento do próprio filho.

Entre a beleza das imagens e alguns diálogos confusos – L’Intrepido alcança a redenção com um magnífico encerramento com uma peça musical, plena de atmosfera e encantamento.

O Melhor: a sequência final, a construção visual
O Pior: alguns momentos obtusos e redundantes


Roni Nunes

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