Sexta-feira, 29 Março

«Serra Pelada» por Hugo Gomes

Depois da sua má experiência nos EUA com Gone, o realizador brasileiro Heitor Dhalia regressa ao seu país natal para compor uma grande produção nunca vista na produção nacional, Serra Pelada, a corrida ao ouro na Amazónia, uma das maiores da Era Moderna. Sob um visual impressionante, onde Dhalia tem a “feliz cartada” de combinar a ficção com imagens reais de uma massa humana insólita, Serra Pelada funciona como um filme de época esteticamente e de reprodução estruturada, mas esquece-se que sem conteúdo não se vai a lado nenhum, e aí que reside os seus maiores problemas.

No seio deste cenário desolador de obsessão humana seguimos dois amigos, Joaquim (Júlio Andrade) e Juliano (Juliano Cazarré), que abandonam São Paulo em prol da promessa de fortuna. Cedo conseguem ascender dentro do garimpo (zona de exploração) e ter o seu próprio barranco, mas a febre do ouro tem consequências irreversíveis para os dois, onde inimigos se revelam e a própria amizade de ambos é posta à prova face ao crescimento rápido do negócio. O que inicialmente eram sonhos tornam-se em autênticos pesadelos.

Demasiado esquematizado e narrativamente desfragmentado para o nosso gosto (visto que o filme foi produzido inicialmente como uma série de televisão), o filme evolui com um impacto dramático que desvanece a cada cena e onde sobressaem desempenhos vazios, apesar do esforço de Juliano Cazarré, personagens descartáveis, unidimensionais, ainda que seja inegável que se valoriza pelos seus inegáveis valores de produção. Esses mesmos, evidenciam que no Brasil é possível concretizar cinema apelativo para as massas e nalguns casos superar os lugares-comuns da telenovela. Porém, e apesar de Heitor Dhalia demonstrar bons detalhes no início, acabar por prematuramente ceder ao gosto da megalomania.
Ainda assim, vale a pena frisar que, por exemplo, Portugal continua a ser um país necessitado deste tipo de produções, mas parece que por falta de interesse ou por fraca astúcia, apenas se espera à “sombra da bananeira” pelo subsidio e não se ataca potencias co-produções com outros mercados para desenvolver obras de maior dimensão.

O Melhor – Os valores de produção
O Pior – Falta-lhe uma estrutura narrativa sólida e personagens devidamente construídas


Hugo Gomes 

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