Quarta-feira, 24 Abril

«O Espinho da Rosa» por Hugo Gomes

David Lunga (Júlio Mesquita) é um advogado de sucesso que acaba de sair triunfante de um dos casos mais polémicos de pedofilia do seu país. Durante a noite que celebra a sua vitória, conhece a bela e misteriosa Rosa (Ady Baptista). Os dois acabam por envolver, mas Lunga estava longe de saber que a sua nova conquista romântica é uma menor. Em consequência disso, a vida do outrora bem-sucedido advogado começa a descambar.

O Espinho da Rosa é fruto de um cooperação com a Guiné-Bissau e Portugal (via Plural Entertainment). Essa união deu origem a um thriller que funde modestamente os diversos artifícios sobrenaturais de um tipo de cinema comummente mainstream. Contudo, todos esses elementos do foro paranormal, para além de recheados de uma aura mística, não tem como intuito sobrepor-se à narrativa. Ao invés disso, arquitectam uma atmosfera arrepiante e acima de tudo sedutora (palmas também para o trabalho de caracterização).

Salientado por uma realização competente (e ocasionalmente genial) por parte de Filipe Henriques (também responsável pelo argumento) e uma banda sonora da autoria de João Barbosa, simbiótica para com o tom imposto pelo filme, O Espinho da Rosa funciona agradavelmente como um exercício de suspense, por vezes rebuscado na conexão dos componentes noir com o sobrenatural, mas que tem ao seu favor o facto de não subestimar a inteligência do espectador, fazendo-o acreditar em … maldições.

Infelizmente, o desempenho do protagonista, Júlio Mesquita, é demasiado dado à inexpressão contemplativa, frágil em comparação com o resto do esforçado elenco. Mesmo assim, O Espinho da Rosa, mesmo sem conseguir demarcar-se do que fora visto no seu género, é uma simples mas acentuada lição de como fazer filmes sem ceder à gratuitidade comercial que tanto parece fazer parte de alguns segmentos do nosso panorama cinematográfico.

O Melhor – A atmosfera e realização de Filipe Henriques
O Pior – é um exercício modesto de thriller. Não se espera grandes irreverências no sentido criativo


Hugo Gomes

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