Rosinha (“Rózycka”) transporta-nos para uma época negra da Polónia, onde os “fantasmas” do Holocausto ainda existentes numa sociedade envolvida em secretismos, em “capas” que revelam desejos obscuros e de um anti-semitismo ainda presente, irá originar consequências drásticas para a vida de milhões. Estamos no final dos anos 60 (março de 1968), período marcado pela violenta revolta estudantil e pelo exílio de inúmeros judeus, marginalizados pela nação que os havia acolhido.

No centro deste crucial momento histórico encontramos algo que poderia muito bem aludir aos enésimos enredos de espionagem, uma variação de Mata-Hari, onde a sensual e ingénua Kamila (Magdalena Boczarska), a fim de satisfazer o seu namorado, o coronel dos serviços secretos Roman Rózek (Robert Wieckiewicz), infiltra-se na vida do inteletual professor e respeitado escritor Adam Warczewski (Andrzej Seweryn), sob o nome de código: Rosinha. Esta operação tem como intuito confirmar as suspeitas em relação a Warczewski, que o apontam como um revolucionário sionista, uma mente livre e pensadora que constitui um perigo para o Governo polaco.

Rosinha de Jan Kidawa-Blonski funciona como um olhar contemplativo a um período negro para a cultura semita, infelizmente esquematizado em prol de uma intriga que tanto pisa os terrenos do thriller como do melodrama, esboçando um triângulo amoroso desequilibrado mas por vezes vertiginoso. Neste último ponto, isso é sustentado pela atriz Magdalena Boczarska, numa combinação trágica de sensualidade e astúcia, representando esta o único fio condutor de toda a ênfase dramática de um filme que na sua ausência encontraria-se despido e seria rigorosamente frio e calculista.

Contudo, em Rosinha o verdadeiro trunfo é o seu trabalho de montagem, a forma como combina o real com o fictício num modo operativo que sugere alguns dos primeiros trabalhos do cineasta russo Sergei M. Eisenstein (a multidão como um herói emancipado). Mas ao contrário da acentuação de uma ideia (a mensagem ou sentimento) como é o caso do trabalho do realizador do mítico O Couraçado Potemkin (1925), Jan Kidawa-Blonski tem o intuito de estabelecer uma aproximação entre as duas dimensões fílmicas: imagens de arquivo intercaladas com o registo cinematográfico da intriga, a sequência dos confrontos entre estudantes e policias salienta-se como um dos momentos altos de Rosinha, o climax assim por dizer.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
rozyczka-rosinha-por-hugo-gomesO Melhor - A montagem por parte de Jan Kidawa-Blonski e a actriz Magdalena Boczarska / O Pior - As referências históricas são amenizadas e esquematizadas de forma o filme entregar a sua premissa.