Terça-feira, 23 Abril

«The MatchMaker» (O Casamenteiro) por Hugo Gomes

No verão de 1968 em Haifa, uma cidade a norte de Israel, o jovem Arik (Tuval Shafir) arranja trabalho como “espião” ao serviço do casamenteiro Yankele Bride (Adir Miller), um misterioso homem que sobreviveu ao Holocausto. Ingénuo e amante de livros de detetives, Arik vai descobrindo através de Bride os diversos segredos acerca do amor e da conquista, sem saber que tais sentimentos acabariam por “bater na sua porta” durante esse verão.

O Casamenteiro, de Avi Nesher (Doppelganger, The Secrets), vencedor da Placa de Prata no Festival de Cinema Internacional de Chicago em 2010, é um típico filme “coming-of-age”, ou seja, um retrato sobre a transição etária e a transmissão de experiências que irão determinar no futuro da personalidade do protagonista. Sob esse signo de aventura cinematográfica, a fita baseada no best-seller When Heroes Fly, de Amir Gutfreund, é rica em nostalgia, extraindo e usufruindo de um tom de tragicomédia que o torna subtil e dinâmico em termos narrativa. Para além disso instala-se de um jeito referencial ao noir, cuja narração ditada pelo protagonista invoca, não só a sua paixão literária, mas também um tributo algo aguado a esse estilo cinematográfico.

Mas apesar de ser agradável em diferentes aspetos, auxiliados por uma fotografia de cores quentes (que para além de situar o espectador na estação onde a ação decorre, ainda lhe aufere um conforto visual), em O Casamenteiro sente-se a falta de um verdadeiro conflito, uma ênfase dramática capaz de movimentar as suas personagens e torná-las mais independentes do que meras figuras de flashbacks. Mas tudo isso é compensado por interpretações favoráveis (o carismático Adir Miller e uma fragilizada Maya Dagan) em cumplicidade com personagens bem construídas e todo um conjunto de situações que o espectador mais velho, ou até mesmo aqueles que vivem na flor da idade, conseguirão identificar. Tal como Proust, uma simples madalena é capaz de nos transportar ao longínquo da nossa juventude.

O Melhor – A habilidade em fundir o drama com a comédia
O Pior – ausência de um conflito motor para a narrativa


Hugo Gomes

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