Quinta-feira, 28 Março

«The Ugly One» por João Miranda

Depois do ano passado nos ter apresentado The Anabasis of May and Fusako Shigenobu, Masao Adachi and 27 Years without Images [ler crítica], Eric Baudelaire torna a trabalhar com Masao Adachi, realizador japonês e membro do exército vermelho (terrorista de extrema-esquerda), e apresenta-nos este ano The Ugly One, um filme que, segundo o realizador, complementa o anterior. Insatisfeito com as limitações do género documental, o realizador afasta-se agora para a ficção, num filme filmado em Beirute com a participação do actor libanês Rabin Mroué e a atriz Juliette Navis.

Se em The Anabasis… censurei a falta de coerência de imagens e de clareza na apresentação da teoria de Adachi do “fûkeiron” (que defende o enfoque nas paisagens sobre as situações, para revelar relações políticas e económicas), em The Ugly One, apesar das imagens serem mais coerentes e dessa teoria ser utilizada, o censurável está na recusa em querer ser compreendido. O texto e as situações obscuras vão multiplicando-se pretendendo revelar que o amor é mais revolucionário que a violência, mas a mensagem quase se perde no ruído à sua volta. A teoria de Adachi pode ser defensável, mas aqui parece não contribuir para nada e o trabalho dos actores, tentado encontrar alguma narrativa linear para as suas personagens, é minado em cada nova cena.

Não vou sequer discutir a presença de The Ugly One num festival de documentários, mas, se insistimos em apresentar filmes com ambições políticas reais, temos de ser claros nas nossas intenções e críticas ou arriscamo-nos a pregar aos convertidos e a alienar todos os outros. Este filme parece ser o discurso de um adolescente arrogante que se queixa que ninguém o compreende ao mesmo tempo que se vai valorizando por fazer parte de uma “elite intelectual” que não é acessível a qualquer pessoa: se por vezes tem ideias interessantes, o resto da ladaínha é repetitiva e pouco original.

O Melhor: O trabalho dos atores.
O Pior: O obscurantismo.


João Miranda

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