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MOTELx: «The Battery» por Jorge Pereira

 

Show me the way to go home |I’m tired and I want to go to bed| I had a little drink about an hour ago| And it’s gone right to my head. Assim cantavam Brody (Roy Scheider), Quinn (Robert Shaw) e Hooper (Richard Dreyfuss) numa pequena embarcação enquanto um perigoso predador, um tubarão branco, os cercava e restringia a um espaço confinado em alto mar. 38 anos depois, é exatamente esta mesma musica que uns também alcoolizados e psicologicamente afetados Ben (Jeremy Gardner) e Mickey (Adam Cronheim) cantam quando retidos no seu carro. À volta da viatura está uma horda de mortos vivos que não lhes dá tréguas e os impede de sair há largos dias (não sabemos bem quantos).

Esta referencia óbvia a Jaws, explica bem a pequena pérola que The Battery é [há ainda uma referencia humorística a Tremors], mas isto no todo é apenas e só um mero detalhe, uma cereja no topo do bolo.

Produzido com seis mil dólares (4400 euros), e realizado pelo próprio Jeremy Gardner, The Battery é puro cinema independente que se serve de uma desculpa maior, uma praga zombie, para apresentar e desconstruir personagens e relações afetadas por males piores que os próprios mortos vivos: a solidão e o entediamento de viver num mundo onde aparentemente se está só [e quem ainda sobrevive, não quer ter nada a ver connosco].

Gardner vai muito longe na eficácia da sua obra e tanto dá mordidelas no romantismo pós-apocalipse [o mistério “Annie”] como também entrega um humor dilacerante [há uma cena de cariz sexual em que tal como Ben, eu não conseguia respirar de tanto rir..]. A tudo isto, o cineasta ainda acrescenta mistérios paralelos aparentemente pouco importantes [quem são os sobreviventes que eles conhecem pelo Walkie Talkie?], mas que enriquecem a intensidade dramatica e que são vez mais difíceis de encontrar num cinema obrigado a entregar todo o jogo para satisfazer as massas.

Por outro lado, e apesar de existirem alguns bons sustos, The Battery é mais drama que terror puro e isso pode levar a que muitos desprezem o filme por se sentirem defraudados. A lentidão dos zombies, ou até a sua pouca inteligência e força é um ponto fácil de se atacar se não entendermos que o cineasta cria [ou dá uma variação], ele mesmo, às próprias regras dos seus mortos vivos. Na verdade, com tantos e tão bons ingredientes, The Battery é mesmo uma das grandes surpresas do ano, onde até as suas nítidas limitações não causam mossa.

Nasceu aqui um pequeno filme de culto, daqueles onde até não nos importávamos de ver a continuação. 

O Melhor: Drama, horror e humor servidos na plenitude. A banda-sonora…
O Pior: Um filme executado com apenas seis mil dólares tem naturalmente limitações.


Jorge Pereira