Quinta-feira, 25 Abril

MOTELx: «The Lords of Salem» por Roni Nunes

Poucos eventos da história dos Estados Unidos despertam tanto fascínio na imaginação dos artistas como a famosa série de julgamentos das denominadas bruxas de Salem. Na altura, à pala de religiosos fanáticos e superstição generalizada, mais de duas dezenas de mulheres foram condenadas por bruxaria, muitas delas acabando por morrer na fogueira. O realizador Rob Zombie já havia tratado do tema na sua carreira musical, no seu álbum de 2006, Educated Horses, onde consta mesmo uma música intitulada Lords of Salem.

Menos interessado em história e mais em satanismo, o cineasta promove, no seu sexto filme, uma visão onírica dos acontecimentos. Estes aparecem interligados com a trajetória contemporânea da radialista Heidi (Sheri Moon Zombie), uma ex-adicta de vida solitária que começa a sentir alucinações depois de receber uma encomenda contendo um misterioso vinil de um grupo chamado The Lords.

Sem negar as origens do seu autor, a música tem um papel importante. Uma delas é Venus in Furs, clássico dos Velvet Underground, executado numa bela sequência e cujo ritmo hipnótico e repetitivo parece mesmo uma fonte de inspiração para o tema composto por John 5 para o filme – sinistra e perfeita para o efeito pretendido. Quando o filme entra nos seus momentos mais delirantes, é Mozart quem surge com a grandiosidade sombria do seu “Requiem”.

Uma das características de The Lords of Salem, aliás, é reunir muita coisa em pouco espaço e sobressaem-se afinidades com meio mundo – desde as peçonhentas histórias de Charles Manson e Jim Jones até os pesadelos do edifício de A Semente do Diabo, passando pelo onirismo lynchiano. Pelo meio, sobra espaço para sarcásticas utilizações da mitologia cristã e a “promoção” (devidamente irónica) do satanismo.

O maior problema do filme é que o enredo vai sendo paulatinamente tragado pelo abstrato a ponto da história perder a relevância. Com essa opção, Rob Zombie acaba por banalizar a força simbólica das imagens, criando uma colagem de referências cujo significado perde-se, em parte, nos seus excessos.

O Melhor: algumas sequências de beleza visual
O Pior: os excessos barrocos


Roni Nunes

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