Sexta-feira, 29 Março

«Oh Boy», por Jorge Pereira

Como as gerações mais antigas diriam, Niko Fischer (Tom Schilling) é pura e simplesmente um calão. Nos últimos dois anos tem andado a passear por uma vida cheio de dilemas, sustentando-se com o dinheiro que o pai lhe dá para tirar o curso de direito que até já abandonou. «Eu estive a pensar», diz ele ao pai quando este o confronta com o abandono da faculdade. Na verdade, Niko pensa muito mas não parece interessado em comprometer-se com nada, sejam relações (como o inicio do filme logo sentencia), seja com um modelo de vida padrão de formiga trabalhadora.

No filme, repleto de nomes fortes do cinema alemão, vemo-lo a vaguear e a intersetar-se com uma série de personagens com os mais diversos problemas, mas sem nunca chegarem a ser surreais, pois por trás da capa a preto e branco do filme (bela cinematografia de Philipp Kirsamer) e um pano de fundo carregado de música Jazz – que nos remete para os trabalhos mais antigos de Woody Allen – está algum sentido de realismo sem grandes extravagâncias e até alguns momentos de maior sensibilidade dramática (como a cena do bar e a sequência seguinte no Hospital).

Realizado pelo estreante Jan-Ole Gerster, Oh Boy é mais um filme que acompanha uma geração de Nikos que por aí pululam, tão comuns nos países desenvolvidos, onde a ausência de problemas verdadeiramente dramáticos (extrema fome, doenças, guerra) é substituída por dilemas pessoais. Porém, e apesar de haver facilmente uma ligação e empatia entre Niko e o espectador, este trabalho não traz nada de novo a um género já carregado com um grande numero de obras que abordam temáticas semelhantes e de forma mais conseguida – e onde também não faltam referências cinematográficas pelo meio (basta lembrar o também a preto e branco “Clerks“, como exemplo).

O facto de também serem introduzidas personagens curiosas – como Julie (Friederike Kempter), uma disfuncional e antiga colega de Niko – que poderiam até dar ao filme uma maior abrangência e foco de interesse, parece apenas servir para preencher o mundo de Niko e a sua vida sem grande sentido. Com isto, e apesar de entreter e ter momentos bem conseguidos, Oh Boy acaba por perder-se no meio do seu potencial, um pouco como a sua personagem principal perante a vida.

O Melhor: As boas indicações que Jan-Ole Gerster deixa para o seu futuro
O Pior: Entretém e tem estilo mas não acrescenta nada ao género


Jorge Pereira

(Crítica originalmente escrita em março de 2013)

Notícias