Terça-feira, 23 Abril

«O Sabor do Leite Creme» por João Miranda

O Sabor do Leite Creme é um filme sobre o quotidiano de duas irmãs que moram em frente a uma escola com a qual têm uma relação pessoal, visto terem nascido, vivido e ensinado lá. O filme enche-se de momentos calmos, a apanhar sol, a coser, a ver fotografias, a falar. 

A meio do filme comecei a perguntar-me o que estava a ver e porquê. Não, não saí da sala, um filme tem de me irritar mais profundamente ou provocar-me uma reação de asco para que o faça, mas comecei a questionar-me sobre o que é pretendido com muito do cinema atual português. As conversas tidas não são impressionantes, filosóficas, políticas, históricas, nada… e o dia a dia destas senhoras também não parece justificar um filme de mais de uma hora. Não é que as senhoras não sejam simpáticas, não é que o filme não pudesse ter interesse, é que, como está, o filme arrasta-se sobre os pequenos nadas que enchem a vida delas (sendo “arrasta-se” a palavra-chave). 

Parece-me que há algo que liga este filme diretamente a movimentos artísticos dos anos 60 em que uma pessoa a passar a ferro podia ser considerado arte, misturando o quotidiano e o privado com o político, mas que, anos mais tarde, nos parecem absurdos. Se assim for, pode ser que este seja apenas um período de transição e que nos dirijamos a algo diferente.

Espero que sim, porque começo a ficar farto de filmes assim.
 
 
 João Miranda
 

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