Sexta-feira, 19 Abril

doclisboa’12: «The Anabasis of May and Fusako Shigenobu, Masao Adachi and 27 Years without Images» por João Miranda

Durante os primeiros vinte anos de vida, May Shigenobu não existia. Nascida quando a sua mãe, indicada algumas vezes como um dos líderes do Exército Vermelho Japonês, andava fugida pelo Líbano, May nunca foi registada e sempre teve de esconder o que se passava em casa e representar as várias identidades que lhe foram atribuídas sempre que mudavam de local, apesar de nem sequer saber o seu verdadeiro nome até aos 15 ou 16 anos.

Guiada pela história do Exército Vermelho Japonês e pela sua relação com o cinema, “The Anabasis…” conta a história de May e desta relação, a partir de um cineasta importante, Masao Adachi, que também foi um dos teóricos do movimento e um dos que ajudou May enquanto crescia. Há, portanto, três linhas que são exploradas, enquanto se vão entremeando imagens de três fontes: os filmes de Adachi, imagens de arquivo e imagens capturadas pelo realizador Eric Baudelaire a pedido de Adachi (da Palestina, do Líbano e do Japão).
 
Se as entrevistas parecem seguir uma ordem, as imagens vão-se entrecortando sem uma lógica óbvia, com saltos geográficos e temporais que por vezes tornam difícil perceber a ligação com o que se diz. Refere-se no início do filme a teoria da paisagem (fukei-ron), onde se refere que qualquer paisagem revela uma relação de poder e que é passível de se encontrar nela as bases da opressão e do imperialismo. Dá a ideia que a organização das imagens poderá ter a ver com essa teoria e também com o que é dito, mas não nos é facultada nenhuma interpretação, o que aliena grande parte do público. É, no mínimo, cómico haver formas que pretendem revelar a alienação do capitalismo alienando grande parte do público.

No final acaba por ser um filme sobre um tema interessante, demasiado ambicioso com as suas três linhas paralelas e com um grande desfasamento entre o som e as imagens.

O Melhor: A vida de May é bastante interessante e as entrevistas conseguem mostrá-lo.
O Pior: A escolha não acessível de imagens e a falta de interpretação.
 
 
 João Miranda
 

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