Sexta-feira, 26 Abril

doclisboa’12: «The Radiant» por João Miranda

A meio de “The Radiant” alguém desmonta uma máquina fotográfica, é nesta imagem que se percebe este filme: mais do que documentar Fukushima, o tsunami ou os perigos da energia nuclear, o objectivo é desconstruir o jargão científico e a propaganda sobre estes temas e construir uma nova narrativa, visual, sonora e emocional que se opõe a eles. Realizado pelo “The Otolith Group”  para a dOCUMENTA 13, o filme é, como esperado de algo feito por um conjunto de pessoas diferentes, uma amálgama de estilos e técnicas, misturada com entrevistas e imagens de arquivo.

Tendo em conta que foi desenvolvido para ser apresentado numa mostra de arte, é normal que o filme não seja facilmente compressível ou acessível para quem vá à procura de um documentário formal sobre os temas focados. Aqui o objetivo é mais deixar uma marca emocional, rejeitando as versões científicas ou oficiais e procurando outras formas. Por exemplo, a banda sonora é algo que incomoda, baseada nos ruídos de medições de radioatividade.

Das narrativas verbais, podemos encontrar reflexões sobre as várias camadas locais, culturais, religiosas, e sobre a forma como eventos importantes como o desastre de Fukushima acrescentam camadas invisíveis e se podem mesmo confundir com as já existentes (poderá ser daqui a 100 anos a radiação uma espécie de deus, tendo em conta o animismo xintoísta do país?).

É um filme para refletir e sentir, mas não para esclarecer.

O Melhor: A desconstrução do jargão científico e da propaganda, a construção de narrativas alternativas.
O Pior: Pode ser confuso ou uma desilusão para quem procure um documentário formal.
 
 
João Miranda
 

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