Quinta-feira, 28 Março

«Totem» por Jorge Pereira

 A certa altura, um polícia diz  – quando vê a jovem passear com um carrinho de bebé a altas horas da madrugada – «nem tudo é para entender». Neste filme, esta frase feita aplica-se na perfeição 
 
 

Fiona vai ter de acordar e deixar tudo preparado para este dia, sem questionar se tem sentido começar este dia. 

Realizado como um projeto para o curso de cinema de Jessica Krummacher, e estreado no passado Festival de Veneza, «Totem» segue a forma como uma jovem vai abalar com o sistema de uma família suburbana alemã, onde o comodismo, as disfunções e os silêncios são banais para todos os seus membros.
 
Fiona é o nome da jovem que vai servir como «faz tudo» na casa dos Bauer. Nesta família, composta por pai, mãe e dois filhos (uma adolescente e um pequeno rapaz), quase ninguém se fala e todos parecem estar entregues a rotinas muito próprias, seja o solário da mãe, os coelhos do pai ou a natação do miúdo. A violência e a injustiça passam frequentemente pelas suas vidas sem uma resposta verdadeiramente emocional e mais parece que estas pessoas vivem como companheiros de casa, sem um verdadeiro contacto social, satisfeitas com o que têm e sem qualquer motivação extra. 
 
Basta olhar para a atitude da mulher para com uns bonecos, para entender que a repressão a que estão sujeitos afeta a sua maneira de interagir com o mundo, e nem uma decisão óbvia da jovem Fiona parece os fazer acordar da dormência em que se encontram. E não vamos esquecer que esta também tem os seus problemas muito próprios, tendo saído de casa para umas supostas férias, mas na realidade trabalhando. Aqui entra em questão um anti-cliché que o filme se apoia. Normalmente, os cineastas tendem em colocar uma criada emigrante em famílias suburbanas, mas Fiona é apenas uma alemã insatisfeita e provavelmente da mesma classe social que os patrões.
 
O que a levou ali nunca saberemos, mas como um polícia diz quando vê a jovem passear com um carrinho de bebé a altas horas da madrugada, «nem tudo é para entender». Neste filme, esta frase feita aplica-se na perfeição. 
 
 
 Jorge Pereira
 

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