Sábado, 4 Maio

«The Da Vinci Code» (O Código Da Vinci) por Jorge Pereira

De maneira a manter-me intacto no que toca a inevitáveis comparações entre o livro e a adaptação cinematográfica (essa tarefa cabe à minha colega Cátia), só amanhã pegarei em “Da Vinci Code” de Dan Brown e o vou folhear pela primeira vez.

A decisão de primeiro ver o filme e só depois ler o livro é bastante consciente, pois creio ser importante ter uma visão “pura” de um trabalho por si só, sem a pressões das palavras e mundos provenientes do universo literário.

Assim, e sabendo o mínimo dos mínimos sobre este filme, dei-me de caras com ele, e devo confessar que foi uma experiência interessante, principalmente pela forma enigmática como se organiza e sem o pejo de recorrer a teorias que contrariam a “verdade” que desde sempre nos foi incutida.

Porém esta viagem teve logo a abrir um aspecto muito curioso. É que por momentos revisitei um jogo de computador (isso mesmo) e até me espanta como ninguém ainda falou nisso. Falo concretamente de “Broken Sword – Shadow of The Templars”, um trabalho de 1996 que colocava (também) um americano e uma francesa às voltas com o Santo Graal, enquanto tinham de fugir da polícia e evitar perigosos encontros com os protectores de tal artefacto.

Mas esta lembrança é só isso mesmo, uma lembrança, e “Da Vinci Code” – apesar das semelhanças minimalistas com este trabalho, distingue-se no seu “sumo” e teorias. De qualquer maneira, este jogo é um nome a fixar pelos fãs do livro, e não é à toa que um dos seus designers (Charles Cecil) será também o responsável por recriar o trabalho de Dan Brown e o de Ron Howard num videojogo.

Mas voltando agora ao filme, “Da Vinci Code” começa com um assassinato, sendo Robert Langdon chamado ao local do crime. A partir daqui começam as peripécias, num enredo que envolve diversas questões religiosas, cultos, seitas, irmandades e muito suspense.

Ron Howard, um cineasta com o qual tenho uma relação muito complicada (gosto muito pouco do seu estilo), cumpre bem o seu objectivo, criando uma obra envolvente, ainda que especulativa, misteriosa, mas ritmada. E no fundo,e de certa maneira, compreendo toda a polémica que surgiu com a obra, pois a importância dada a Maria Madalena na vida de Jesus contraria tudo o que nos foi ensinado. Mas como leigo na matéria não me cabe a mim questionar as teorias, mas apenas a sua aplicação no filme. Nesse aspecto, tudo é muito bem explicado, mas nitidamente com “buracos“, havendo mesmo momentos em que ficamos confusos com alguns detalhes. Talvez num segundo visionamento tudo faça mais sentido, ainda que à primeira vista soasse a demasiado rebuscado. Mas também a Bíblia o é, e como tal não vou por esse caminho.

Já no que toca aos actores parecem-me bem escolhidos para estes papéis, sendo destacável a força que alguns secundários dão à obra. Um dos maiores problemas nestes filmes de mistério e mesmo aventuras (como o fraquinho “National Treasure”) é que se centram demasiado nas suas personagens principais, usando os outros como meros fantoches. Aqui não. Silas (Paul Bettany) é assustador e tresloucado e Sir Leigh Teabing (Ian McKellen) é engenhoso e apaixonado – só para dar dois exemplos de personagens fortes.

No que concerne a outros elementos, já referi que o trabalho de Howard é competente, apenas sendo um pouco banal as revisitações ao passado, e a busca de certas respostas aos enigmas que o filme tem, indo mesmo o cineasta buscar alguns planos que já tinha usado por exemplo em “Beautiful Mind”. Mas são meros detalhes, e com um enredo dinâmico – e com a clara visão cinematográfica que o livro aparenta ter, seria muito complicado comprometer esta obra.

Uma nota final para a banda-sonora do filme, bastante boa, a montagem (que dá muito do ritmo que o filme têm) e a cinematografia, muito carregada de artefactos quando vai ao passado de Sophie, mas atraente na evolução do presente.

Como tal, e polémicas à parte, esta fita funciona como um bom entretenimento, compreendo-se assim toda a euforia em seu torno, especialmente se pensarmos que de mistérios frouxos anda o cinema, a literatura e o Inferno cheio …

 
Jorge Pereira
 
 

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