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Thor: Amor e Trovão: ‘Filme da Treta’ versão Marvel

Regado a Guns n’ Roses, “Thor: Love and Thunder” não é um filme de super-heróis. É um filme com super-heróis. Um filme de deboche, algo próximo de uma comédia. Algo mais próximo do “Filme da Treta” (2006), de José Sacramento, do que de “Vingadores”. Está interessado mais em rir dos códigos de aventuras, incluindo aqueles sedimentados por “Erik the Viking”, de Terry Jones, e “Time Bandits”, de Terry Gilliam. Mas é algo sem o refinamento de um Monty Python. Trata-se de (mais) uma longa-metragem com a sanha autoral de Taika Waititi, realizador neozelandês cuja estética parece a do sketch humorístico de TV e cujo ethos dedica-se a demolições morais. A representação do masculino tem sido o seu alvo na sua entrada na franquia “Thor”, a partir de 2017, com o desastroso “Ragnarok”. A diferença é que, neste seu regresso ao universo de Asgard, a morada dos deuses nórdicos, ele lembra-se que o cinema é uma arte de imagens em movimento e não um teatro de revista. Lembra-se disso quando se esforça, dentro do que sabe, para poder apresentar uma narrativa um pouco mais ousada plasticamente. Consegue isso aqui e acolá, numa porção do filme em preto e branco (bem fotografada por Barry Baz Idoine) e na contagiante sequência inicial, na qual Thor põe os seus adversários abaixo, numa sucessão de golpes modulados pela adrenalina. É uma sequência à la John Wick, que Waititi não saberia fazer jamais. Tanto é que, no que sobra, reina o enfado. Dá preguiça ver o empenho do realizador em transformar o que nasceu para ser uma narrativa épica, nos moldes de “Conan The Barbarian” ou “Lord of the Rings”, num episódio de “Flight of the Conchords”. E, para piorar, ainda há um tratamento absolutamente irregular da vilania.  

Somados, os três filmes anteriores da franquia do príncipe de Asgard, lançados em 2011 (“Thor”, de Kenneth Branagh), 2013 (o excecional “The Dark World”, de Alan Taylor) e 2017 (“Ragnarok”, também de Waititi), arrecadaram 1,9 mil milhões de dólares. A nova produção promete elevar essas cifras, moldando um guerreiro implacável como o Deus do Trovão como um Chevy Chase fanfarrão. E há outros chamarizes, como o regressode Natalie Portman como Dra. Jane Foster, mas não apenas como física e, sim, como a nova portadora do martelo Mjölnir. Ela dignifica a releitura que Waititi tenta fazer da saga de BDs iniciada em “Mighty Thor” (2015) #1, com o guião de Jason Aaron. Nessa saga, ela vira a Poderosa Thor. Pode se dizer o mesmo da participação de Tessa Thompson, dando um tom mais pop à figura da Valquíria, agora governante de Asgard. Natalie consegue dar complexidade a um enredo que se agarra a piadinhas, traduzindo a angústia de Jane ao se encontrar na fase terminal de um cancro, que se agrava em metástases a cada uso que faz da marreta sagrada. E Tessa também escava novas potências comportamentais em Valquíria.

Mas no meio do caminho delas, e de Hemsworth, cuja star quality hoje beira as alturas, num binómio de carisma e vastas ferramentas dramáticas, existe uma pedra. Essa pedra é Waititi.

Vencedor do Oscar de melhor argumento adaptado de 2020 por “Jojo Rabbit”, no qual um rapaz alemão era amigo de Hitler (vivido por ele mesmo, uma vez mais no reino da troça), Waititi havia concorrido às estatuetas douradas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood antes, em 2005, com a curta “Two Cars, One Night”, de 2003. O filme concorreu na festa da Academia de 2005, no mesmo ano em que ele fez “What We Do in the Shadows: Interviews with Some Vampires”, com Jemaine. Nessa curta, ele cria uma estratégia supostamente documental para mostrar o que uma equipa de cineastas faz diante de três vampiros cuja verve aristocrática não parece mais compatível com um mundo interligado pela internet. De novo, ele conseguiu um sucesso, exibindo o filme na sua terra natal, no New Zealand International Film Festival, em julho de 2006. No ano seguinte, ele foi prestigiado pelo público do Festival de Sundance que aplaudiu a (hilária) comédia “Eagle vs Shark” ( 2007), também com Jemaine, e foi, com ele, filmar a já citada série “Flight of the Conchords”.

Em 2010, regressa a Sundance e vai à Berlinale, com “Boy”, comédia agridoce sobre um pequeno fã de Michael Jackson. Na sequência, roda mais uma curta “42 One Dream Rush” e embarca nas séries “Super City” (2011) e “The Inbetweeners ” (2012), enquanto prepara um filme baseado em “What We Do in the Shadows”, que é lançado em 2014, mais uma vez em Sundance. Gasta 1,6 milhões de dólares nas filmagens – realizadas em Wellington, em setembro de 2012 – e consegue 7 milhões nas bilheteiras, configurando um êxito comercial. De novo, ele e Jemaine vão a Berlim, agora concorrendo na mostra Geração, pela sua toada de comédia adolescente, indisfarçavelmente inspirada em John Hughes (1950-2009) e o seu seminal “The Breakfast Club” (1985). Fora os elogios alemães em solo berlinense, Waititi e Jemaine conquistam 26 prémios pelo filme, incluindo a láurea especial do júri do Festival de Turim pelo argumento, e o voto do júri popular da seção Midnight Madness do Festival de Toronto. Sttges, considerado o maior festival de cinema fantástico do mundo, realizado desde 1968 em terras catalãs, deu-lhe uma menção honrosa, seguida do prémio do júri popular. Foi daí que a Marvel se encantou por ele. Mas não avisaram a ele do que os fãs de BDs gostam. E nem o que esses fãs respeitam.  

Filmes de super-heróis, sustentáculo da economia cinematográfica, são, por essência, épicas de autossacrifício: existem cordeiros que se oferecem à imolação em prol da Humanidade. Não existe humor na espinha dorsal desse gesto. Pode haver gargalhadas como apêndice, como efeito de oxigenação da tensão. Pode haver um respiro para o que há de bruto na peleja do sacrificado contra a moléstia moral que leva um vigilante a se arriscar em prol de quem precisa de auxílio. É o que se via em “Homem-Aranha 2”, uma das obras-primas do filão, pilotada por Sam Raimi, em 2014. Pode e deve haver arejamento, pois o riso é um convite ao carisma. Mas esse riso não pode se superpor a essência das narrativas de super-heróis, cuja génese dos quadradinhos vem da ação e não da troça. Existem bds para rir e existem as de super-herói. É assim desde as primeiras viagens galácticas de Buck Rogers, em janeiro de 1929: a pedra fundamental pop da jazida. Mas Waititi não percebeu isso muito bem quando finalizou o corte do histérico “Thor: Ragnarok”, o mais vazio das longas-metragens da Marvel.

No desespero de dar ao conglomerado das bandas desenhadas um novo Deadpool – uma produção de 58 milhões da Fox, que, em 2016, arrecadou 783 milhões -, o cineasta neozelandês resolveu substituir a seriedade épica comum aos vigilantes uniformizados por galhofas sucessivas: é piada atrás de piada, mesmo nos momentos em que elas são desnecessárias. O resultado beira um programa humorístico enrugado.

Porém, esse erro mostra-se ainda mais grotesco frente à maneira como Waititi apresenta a figura do Mal, Gorr, ao escrever o filme em parceria com Jennifer Kaytin Robinson. Apesar de ter nas mãos um dos atores mais talentosos da atualidade, Christian Bale, o cineasta não consegue justificar a vilania que tenta imputar a Gorr. O seu advento é inverossímil. Pior do que isso: Waititi faz com que o público se apiede dele, apesar dos seus crimes envolverem assassinatos. Gorr é alguém que se perdoa à primeira vista. E, para agravar a situação, o redesenho, no trânsito da BD para os ecrãs faz lembrar o Santo dos Assassinos de “Preacher”, da DC Comics. É uma leviandade sem fim, que emperra o que prometia ser um entretenimento com vigor intelectual.

E fica pior quando Thor chega a um Olimpo gourmet, onde as divindades de diferentes civilizações se refugiam, sob a batuta de Zeus. Este é vivido por um Russell Crowe nas raias da caricatura, envergonhando o legado do majestoso “Gladiador” (2000). É mais uma evidência do desaparecimento daquele Waititi cheio de retidão que realizou o episódio 8 da temporada 1 de “The Mandalorian”: ou seja, um Waititi sóbrio, a brincar de Sergio Leone. Ficou o Waititi da galhofa, com pouco ou nada a oferecer.

Carro Rei: A monarquia ciborgue da invenção

Posted By Rodrigo Fonseca On In Entrevistas | Comments Disabled

Apresentando ao mundo há 1 ano e seis meses, durante o Festival de Roterdão, na Holanda, de onde saiu cercado de elogios, o thriller sci-fi Carro Rei arranca, enfim, pelo circuito brasileiro adentro, com o carburador aditivado de prémios. Foram 16 ao todo, conquistados em festivais como Raindance – Inglaterra (Melhor Roteiro); Feratum – México (Melhor Filme de Ficção Científica Latino-americano); Fantasia (Canadá) e Fantastic Festival (EUA). No Brasil, a longa-metragem dirigida por Renata Pinheiro, uma aclamada diretora de arte, arrebatou a competição do CineFantasy, conquistando estatuetas nas categorias Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Ator e Júri Popular. Renata conquistou ainda o disputado Kikito de Melhor Filme em Gramado, a mais popular das mostras do cinema brasileiro. Contabilizou ainda nestas terras as distinções de Melhor Desenho de Som (dado a Guile Martins); Direção de Arte (de Karen Araújo); e Banda-Sonora (de DJ Dolores). E recebeu um prémio especial do júri, dado a Matheus Nachtergaele, por uma vulcânica atuação. É uma longa-metragem que renova a estética de invenção de Pernambuco, de onde saíram Amarelo Manga”, “Árido Movie”, “Boi Neon”, “Aquarius e Bacurau.  

A sua trama lembra muito Bumblebee (2018) nos seus momentos iniciais, quando um rapaz é salvo de um atropelamento por um carro com quem estabelece uma estranha conexão. Por “estranha” leia-se: ele fala com o carro. Anos depois, dedicado ao ativismo ambiental, o jovem (Luciano Pedro Jr.) retoma a relação com o veículo, mas vê o tio, o mecânico Zé Macaco (Nachtergaele), conectar-se com o totalitarismo, e formar um gangue com ímpeto ciborgue.

A cineasta e diretora de arte Renata Pinheiro – Crédito da foto: Raul Toscano

Realizadora de Amor, Plástico e Barulhoe Açúcar, filmado em duo com Sérgio Oliveira, Renata fala ao C7nema sobre sua imersão nas veredas da ficção científica.

Mais do que sedimentar a ficção científica na América Latino, o seu filme reforça a dimensão sociológica do cinema brasileiro ao retratar a revolta das máquinas, via Zé Macaco, de um modo similar ao que se vê em “Metropolis”, de Fritz Lang. As máquinas parecem metáforas da massa operária excluída. Mas que signos conscientes atribui aos carros que ganham vida?

Metropolis”, você me lembrou muito bem. Existe essa semelhança entre as máquinas serem a metáfora da massa operaria excluída. No meu filme, os carros antigos são sucateados pelo sistema capitalista que incentiva o consumo, como também os trabalhadores que são excluídos do sistema. São excluídos uma vez que eles deveriam se endividar para poder entrar no sistema. Num signo direto e consciente, esse carro inteligente e humanizado é um signo de uma inteligência artificial que está cada vez mais presente na nossa vida. É signo também da manipulação de massa pelas redes sociais e gadgets que temos como companheiros agora. São elementos que modificam o panorama de uma sociedade através dessa manipulação muito mais direta e mais presente onde quer que você esteja. Não é só a máquina em si, mas a máquina tecnológica que é um ser influenciador do pensamento e da consciência humana.

Qual é o signo daquele quasímodo encarnado por Matheus Nachtergaele?

Quanto ao Zé Macaco, eu iria para outro pólo, que seria o do brasileiro comum. Frente a um sistema de educação falhado e excludente como o nosso, perdemos diversos talentos em diversas áreas. No caso do filme, Zé Macaco é esse cientista que possui um talento natural para a tecnologia, mesmo sem ter tido uma educação formal. Ele conseguiu ser autodidata e aprender com os manuais dos carros como se constrói um motor e fazer objetos electrónicos. O Zé Macaco é um excluído. Ele é excluído do seu núcleo familiar por conta de ser essa pessoa diferente das outras. É uma metáfora do tanto de gente talentosa que é excluída. No filme, ele transforma essa frustração em um monstro. Essa evolução humana faz ele liderar o gangue. Mas essa liderança não o torna melhor e, sim, um fascista.

A que tradição do pluralíssimo cinema de Pernambuco você acredita se conectar nesse filme? Que recantos de Pernambuco estão ali?

Essa é uma pergunta muito mais para vocês, que têm uma visão de fora das nossas obras. Acho que é um filme que se conecta a uma tradição latino-americana nordestina que é do realismo fantástico. O nosso filme também é uma fábula, conectado à tradição nordestina. É claro que também é impregnado de influências dos nossos colegas, dos nossos filmes, mas eu não te dizer quer dizer qual ou quem. Eu me identifico com a obra do Tavinho Teixeira, um grande colaborador do cinema pernambucano. Pernambuco e Paraíba já foram até um só lugar, mas acho que Tavinho também se utiliza da fábula, da sátira, para falar de assuntos importantes. Se tivesse que apontar referências dos meus pares, colocaria, a princípio, o paraibano Tavinho Teixeira nesse meu lugar de fala.

O cartaz internacional do filme

Quais foram as reações mais inusitadas que você apanhou nas sessões de “Carro Rei” pelo mundo, a partir de sua passagem por Roterdão?
Lançamos o filme para o mundo em janeiro de 2021, em plena pandemia. Inclusive Roterdão não teve sessão presencial. Foram para o ambiente online, como em outros festivais. Até na Coreia fizemos live com sessão comentada. O que mais me impressionou é a capacidade que um filme como esse tem de conversar com diversas culturas. Na Inglaterra, Serginho (Oliveira, produtor e parceiro habitual de Renata) foi e eu estava trabalhando. Mas ele me relatou que o entendimento era muito profundo do filme. Isso surpreendeu muito e foi quando ganhamos um prémio de melhor roteiro. Acho um prémio muito especial, por ser um filme que não tem nada a ver com a cultura inglesa. O que chama mais atenção é a quebra da expectativa de ser um filme que eles esperam vir do Brasil. Esperam um filme sobre violência ou filmes latino-americanos de dramas familiares. Mas “Carro Rei” é um filme que aborda uma outra questão pertinente à Humanidade. De facto, quando estávamos a fazer o filme, eu pensava que iriam me matar por não entrar numa tendência do cinema brasileiro. Mas era o que queria fazer. Não tive medo de reação negativa. Quando a ideia vem, ela aparece com tanta força que chega ser incomodo não a realizar. No site de Roterdão, eles falam dos carros como zombis do capitalismo. Houve muitas críticas e resenhas ao redor do mundo. Cada uma delas vem com uma questão nova sobre o filme. É super satisfatório ter feito um filme com a roupagem muito peculiar e regional, mas que trata dessas questões que são interesse de todos.

Oscars® 2021 poderão ser adiados

Posted By Ana Sofia Santos On In Notícias | No Comments

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood enfrenta mudanças repentinas e incertezas.

Segundo a Variety, citando várias fontes anónimas, a Academia de Hollywood pondera adiar a 93ª edição da cerimónia de entrega dos Oscars, que está agendada para decorrer no dia 28 de fevereiro de 2021.

Uma dessas fontes avança na possibilidade de uma nova data, enquanto que outra indica que a ABC, a estação televisiva que emitirá o evento, não é favorável à mudança.

Recorda-se que que em abril a Academia anunciou – devido às circunstâncias atuais, consequência da pandemia de COVID19 – algumas mudanças quanto à elegibilidade dos filmes. Nessas novas regras estava a inclusão de produções que foram inicialmente agendadas para um lançamento em sala de cinema, mas que passaram diretamente para o VOD. Esta nova regra só será aplicada até aos cinemas reabrirem.

Após o comunicado das mudanças, David Rubin, presidente da Academia, foi entrevistado pela publicação, e questionado quanto à hipotese de alteração de data da gala de premiação, afirmando ser cedo para discutir “esse cenário.

“O que sabemos é que queremos celebrar os filmes, mas ainda não sabemos exatamente como o fazer.” disse Rubin.

Isabelle Huppert preside o júri do Festival de Veneza

Posted By Jorge Pereira Rosa On In Em Foco,Festivais | Comments Disabled

A atriz francesa Isabelle Huppert será a presidente do júri internacional da competição do 81º Festival Internacional de Cinema de Veneza. O júri decidirá o Leão de Ouro de melhor filme, além de outros prémios oficiais.

“Existe uma longa e bela história entre mim e o festival”, disse a atriz em comunicado. “Tornar-se um espectador privilegiado é uma honra. Mais do que nunca, o cinema é uma promessa. A promessa de fugir, de perturbar, de surpreender, de olhar bem para o mundo, unidos nas diferenças dos nossos gostos e ideias.

O Festival de Veneza decorre de 28 de agosto a 7 de setembro.

Peter Farrelly vai realizar um filme sobre a produção de “Rocky”

Posted By Jorge Pereira Rosa On In Notícias | Comments Disabled

Peter Farrelly (“Green Book”) vai realizar “I Play Rocky”, um filme inspirado na realização do filme protagonizado por Sylvester Stallone, “Rocky”, de 1976.

I Play Rocky” segue um ator em dificuldades, com a cara parcialmente paralisada e um problema de fala, que escreve um guião que um grande estúdio de cinema quer comprar. Porém, ele recusa-se a vender o guião se não tiver o papel principal. Sem nunca nomear Stallone diretamente, o filme acompanha a busca de financiamento para que o filme chegue ao ecrã.

Recorde-se que “Rocky” tornou-se o maior êxito das bilheteiras de 1976, tendo recebido dez nomeações aos Óscares e vencido o prémio de Melhor Filme, antes de dar origem a um franchise de sucesso.

“Emmanuelle” com estreia mundial no Festival de San Sebastián

Posted By Jorge Pereira Rosa On In Em Foco,Festivais | Comments Disabled

Emmanuelle“, a nova longa-metragem da escritora e realizadora francesa Audrey Diwan, terá a sua estreia mundial em competição como filme de abertura do 72º Festival de Cinema de San Sebastián, que começa a 20 de setembro.

Publicado pela primeira vez em francês em 1967, sob o pseudónimo de Emmanuelle Arsan, “Emmanuelle” é um dos romances eróticos modernos mais famosos, tendo sido adaptado ao cinema na década de 1970 com Sylvia Kristel no protagonismo.

Na nova versão, durante uma viagem de negócios a Hong Kong, Emmanuelle conhece várias pessoas, incluindo um homem chamado Kei, que a ilude constantemente. Segundo a realizadora, a história foi concebida como uma exploração do prazer na era pós #MeToo.

Diwan, vencedora do Leão de Ouro em Veneza com o filme “O Acontecimento“, de 2021, co-escreveu “Emmanuelle” com a também realizadora Rebecca Zlotowski.

A atriz e realizadora Noémie Merlant interpreta o papel titular, sendo acompanhada no elenco por Naomi Watts (“Mulholland Drive”), Will Sharpe (“The White Lotus”), Jamie Campbell Bower (“Stranger Things”), Chacha Huang e Anthony Wong.

«Ainda temos o amanhã» : violência doméstica e direitos femininos

Posted By Lídia Ars Mello On In Crítica | Comments Disabled

Podemos deixar para o amanhã o que já devíamos ter resolvido? Não devíamos, entretanto há coisas que levam tempo para se resolver. Principalmente, quando se trata de violência doméstica contra as mulheres, não importa a época, nem o país. Um tipo de violência aceite socialmente em nome da família e do patriarcado, uma hipocrisia que perdura desde sempre. Por muito tempo, as mulheres eram propriedade dos homens e, alhures, ainda há uma parcela deles que pensam assim. Nos dias que correm, a emancipação feminina demanda um preço alto e também na Itália no contexto do pós segunda guerra. Época em que as mulheres italianas conquistaram os direitos civis de votar. É no enlace destas questões que a realizadora italiana Paola Cortellesi, estreante em longas-metragens, constrói e realiza a história de  «Ainda temos o amanhã« (C’è ancora domani, 2023).        

A narrativa tem como protagonista Délia (interpretada pela própria Paola Cortellesi, 1973-), que além de realizadora é também atriz. No filme, ela é mãe de dois meninos e uma adolescente, além de ser uma esposa explorada diariamente por um marido violento e tosco. Ivano (interpretado por Valerio Mastandrea) despreza, bate e humilha Délia diante dos olhos de todos. Além disso, ela é cuidadora do sogro acamado, desequilibrado e machista como o filho.

 «Ainda temos o amanhã»  é filmado em preto e branco e em locações naturais, num tom realista, com atores profissionais e não profissionais e diálogos no dialeto romano. A diretora explora o universo quotidiano de Délia no seio de uma família de classe baixa cheia de conflitos. Traz referências realistas do cinema italiano dos anos 40 (Rosselini, De Sica, Visconti), mas não o realismo puro. Cortellesi faz uma releitura do passado longínquo e do neorrealismo. O filme retrata temas sociais trágicos, com pitadas de comicidade, seja nos diálogos ou nas ações das personagens, e na leveza das canções que compõem a banda sonora, somado à beleza pictural das imagens.

A protagonista é uma dedicada dona de casa e faz uns biscates aqui e ali para ajudar a sustentar a família, e como modo de subverter alguma opressão do marido inútil e agressivo, esconde parte do que ela ganha nos trabalhos fora de casa, na esperança de uma vida melhor para a sua filha, já que não quer que a adolescente tenha um futuro como o seu.

A caminho do trabalho externo, Délia fabrica uma linha de fuga para fugir da opressão conjugal e seguir vivendo, quando visita a amiga Marisa para pôr a conversa em dia. Marisa, juntamente com o marido, é dona de uma banca de legumes numa feira de rua  (eu diria que é a única mulher não submissa do filme, e inclusivamente dá ordens ao marido sobre o trabalho que fazem). Délia também inventa tempo para conversar com um pretendente amoroso numa oficina mecânica no regresso a casa, tudo isto sem que o seu marido saiba.         

 «Ainda temos o amanhã»  foca na violência contra as mulheres, nos direitos femininos, no sexismo e machismo. Há falas e ações ao longo do filme nas quais vemos os direitos das mulheres sendo negados, a exemplo de quando Délia descobre que faz o mesmo trabalho de um homem numa oficina para arranjar guarda- chuvas, um iniciante que, todavia, recebe mais do que ela, simplesmente por ser homem. Uma realidade que infelizmente ainda persiste em qualquer profissão.  

Délia é diariamente agredida pelo marido, fisicamente e emocionalmente, não o ama, mas não consegue se libertar dele, mesmo tendo a possibilidade de fugir com outro homem que a deseja. Parece que a responsabilidade com os filhos e o peso da instituição família fala mais alto que o seu sofrimento. Talvez também ela não tenha tido a coragem de fugir com o pretendente amoroso, por pensar que, com outro homem, poderia igualmente ser maltratada e desprezada, uma vez que na época em que o filme se passa, o machismo e a força do patriarcado era gritante, quase institucionalizados pela sociedade. 

Há algumas cenas do filme, feitas para chamar a atenção dos espectadores, nas cenas em que o marido de Délia a espanca, a realizadora cria uma dança coreográfica e amorosa, o que me incomodou muito enquanto mulher, pois senti que tal estetização suaviza a violência feminina, além das marcas de agressão do marido, que no filme se apagam no corpo de Délia como num passe de mágica. Penso que existem outros modos de interpretação que não precisam maquilhar a violência, nem tão pouco reforçar como fazem interpretações mais incisivas. Délia representa todas as mulheres vítimas de violência doméstica. Eu nunca sofri isto, mas não creio que seja confortável e afetuoso ser espancada e depois ir dançar com o agressor. A opressão contra as mulheres, sejam pobres ou ricas, ainda persiste, precisa ser reconhecida e afrontada pela sociedade.    

Por outro lado, gostava de destacar o primor do enquadramento, composição e picturalidade do primeiro plano do filme, o qual temos a impressão que é uma pintura. E igualmente a qualidade técnica do longo e lento travelling horizontal de Délia andando pela rua. A câmara acompanha-a sem cessar durante todo o filme. Sem esta personagem, o filme não existiria, apesar de todas as contradições da sua vida, ela é uma mulher forte e resistente.                 

Numa entrevista, Cortellesi revela que «o filme, em parte, foi inspirado em histórias das suas avós, que viveram o período no qual a ficção  foi ambientada (1946), de modo a pôr em discussão questões latentes da atual sociedade italiana, como o machismo tóxico e persistente». Machismo enraizado na estrutura de muitas sociedades e países. Quando do lançamento do filme na Itália, a realizadora declarou : “Percebi que todos os italianos, jovens ou idosos, reconheciam no filme um bocadinho da sua própria família. Não necessariamente a violência, mas certas atitudes em relação às mulheres.” Esta identificação dos espectadores com o filme revela problemas estruturais que incomodam e ainda não foram resolvidos. Neste sentido, o cinema tem sido um ambiente seguro para realizadoras corajosas trazerem a discussão temas femininos e sociais que ficaram encastrados dentro das paredes das casas de muitas famílias. É preciso urgentemente mudar a mentalidade de gerações que taparam o sol com a peneira. O combate à violência e a conquista pelos direitos de nós mulheres têm sido uma luta feminista constante.              

Sobre as questões políticas do pós segunda guerra não foram aprofundadas no filme, são apenas pano de fundo para ambientar a história, embora ao longo do filme vemos soldados norte-americanos ocupando as ruas e no final da narrativa é mostrado o referendo para a escolha entre a República e os Savoias, resultando na queda da Monarquia comandada por esta família de 1861-1946. É nesse momento que Délia faz uma transgressão ao ir votar. Contudo, não nos é dado a ver nem mesmo um resumo do processo de luta das mulheres italianas pela conquista do direito civil de votar. O primeiro país do mundo a garantir o sufrágio feminino foi a Nova Zelândia, em 1893, graças ao movimento liderado por Kate Sheppard. Em Portugal foi em 1931, mas com limitações, e no Brasil em 1933. Na Arábia Saudita, esse direito somente foi garantido às mulheres em 2015. Os nossos direitos não são paritários, a nossa liberdade e autonomia ainda são limitadas e ameaçadas, mas quiçá um dia isso mude, seguimos na luta geração após geração!     

«Ainda temos o amanhã«  homenageia os atos de mulheres desconhecidas que, mesmo sem pretender, contribuíram para a construção de uma sociedade menos machista e menos patriarcal. O filme é otimista e abre caminhos para novas gerações femininas. Recebeu três prémios no festival de Roma, já foi visto por mais de 5 milhões de pessoas nas salas de cinema italianas, atraiu espectadores de todas as idades, sendo quase metade do público masculino. E foi contemplado com o Prémio do Público na recente Festa do Cinema Italiano [1] em Lisboa, onde pude vê-lo. A ficção dura 2 horas e tem como argumentistas Paola Cortellesi, Giulia Calenda e Furio Andreotti, mexe e remexe com as nossas emoções e visões sobre os temas abordados pela realizadora. Estreia nas salas de cinema de Portugal quinta-feira dia 9 de maio de 2024. Vale a pena ver! TRAILER [2]

A Montblanc celebra o 100º aniversário da Meisterstück com uma curta-metragem de Wes Anderson

Posted By Ana Sofia Santos On In et cætera | Comments Disabled

A luxuosa marca alemã Montblanc está quase a atingir o seu 120º aniversário. Conhecido pelas suas canetas, relógios e artigos de couro de classe mundial, a Montblanc comemorou recentemente um século da sua icónica caneta-tinteiro “Meisterstück”, símbolo da escrita de luxo de alta qualidade, com um evento coberto em Los Angeles e uma apresentação musical surpresa de John Legend. Para acompanhar o feito, a Montblanc convocou o cineasta americano Wes Anderson para criar um filme de celebração.

A curta de 3 minutos, intitulada “100 anos de MEISTERSTÜCK“, mostra o próprio Anderson como protagonista, ao lado de Jason Schwartzman e Rupert Friend. Com o verdadeiro e peculiar estilo de Wes Anderson, o filme apresenta cenas de quadro único e diálogos sutilmente cómicos sobre a história e a arte da Montblanc.

A história de “100 anos de MEISTERSTÜCK” começa no gelado cume da montanha Mont Blanc, na Europa Ocidental, onde aparentemente está sediado o ficticio Observatório Mount Blanc, onde apresentama coleção de aniversário, incluindo malas, bolsas e carteiras – ao lado de uma caneta de edição especial projetada por Wes Anderson, com lançamento previsto para 2025.

Hugh Jackman e Jodie Comer em “The Death of Robin Hood”

Posted By Ana Sofia Santos On In Notícias | Comments Disabled

Hugh Jackman e Jodie Comer foram oficialmente anunciados como protagonistas de “The Death of Robin Hood“, um projeto liderado por Michael Sarnoski.

Apesar de não existirem muitos detalhes sobre o filme, a sinopse oficial avança: “Robin Hood, o lendário heróico fora-da-lei, encontra-se a lutar com o seu passado depois de uma vida de crime e assassinato”. Ao contrário das versões anteriores, parece que este projeto contará a história de Robin Hood como “um solitário desgastado pela batalha [que] se encontra gravemente ferido e nas mãos de uma mulher misteriosa, que lhe oferece uma hipótese de salvação”.

A produção do novo filme está programada para começar no próximo ano, em fevereiro. Sarnoski disse no comunicado: “Foi uma oportunidade incrível de reinventar e inovar a história de Robin Hood que todos conhecemos. Garantir o elenco perfeito para transformar o argumento no grande ecrã, foi essencial. Não poderia estar mais emocionado e confiante em Hugh e Jodie para dar vida a esta história, de uma forma poderosa e significativa.

Teaser para “Megalopolis”, o antecipado sci-fi de Francis Ford Coppola

Posted By Ana Sofia Santos On In Trailers | Comments Disabled

Megalopolis” tem a estreia prevista para o Festival de Cinema de Cannes. O lendário cineasta começou a trabalhar no argumento do filme ainda na década de 80.

O filme conta com um elenco de estrelas composto por Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire, Jason Schwartzman, Kathryn Hunter, Grace VanderWaal, Chloe Fineman, James Remar, DB Sweeney e Dustin Hoffman ao lado de Adam Driver.

Na sinopse oficial, lê-se: “Megalopolis é uma fábula épica romana ambientada numa América Moderna imaginada. A cidade de Nova Roma deve mudar, causando um conflito entre Cesar Catilina (Adam Driver), um artista genial que procura um futuro utópico e idealista, e a sua oposição, Franklyn Cicero (Giancarlo Esposito), que continua comprometido com uma política regressiva. Status quo, perpetuando ganância, os interesses especiais e a guerra partidária. Dividida entre eles está a socialite Julia Cicero (Nathalie Emmanuel), filha do prefeito, cujo amor por César dividiu a sua lealdade, forçando-a a descobrir o que ela realmente acredita que a humanidade merece.

O primeiro vídeo – divulgado no YouTube – mostra o personagem de Adam Driver a oscilar no telhado de um arranha-céu. O teaser mostra a habilidade de Cesar, que parece pensar em saltar, mas quando a gravidade começa a seguir o seu curso, grita: “Pare o tempo!” Abaixo dele, todos os carros na rua parecem parar, permitindo que se mova de forma livre.

A história dos Mamonas Assassinas chega aos cinemas portugueses

Posted By Jorge Pereira Rosa On In Notícias | Comments Disabled

O filme sobre os Mamonas Assassinas, banda de rock progressivo que ganhou notoriedade na década de 90 com a originalidade das suas letras, estreia nos cinemas portugueses em junho depois de ter aberto, no passado dia 2 de maio, a 15ª edição do FESTIn.

Em “Mamonas Assassinas – O Filme [3]” seguimos Dinho, Sérgio, Samuel, Júlio e Bento, jovens de Guarulhos à procura de um sonho: gravar seu primeiro disco ainda como a Banda Utopia. Para tal, não mediram esforços, trabalhando dia e noite no que encontrassem pela frente. Não poderiam imaginar que em pouco tempo estariam reunidos no maior fenómeno musical brasileiro da década, os Mamonas Assassinas, transformando a música brasileira para sempre, apesar da sua curta carreira devido a um acidente aéreo que os vitimou.

Realizado pelo brasileiro Edson Spinello, o filme conta no elenco com Ruy Brissac como o vocalista Dinho; Beto Hinoto, no papel do seu tio Bento, guitarrista da banda; Rhener Freitas como o baterista Sérgio Reoli; Adriano Tunes como o baixista Samuel Reoli; e Robson Lima como Júlio Rasec, responsável pelo teclado, percussão e vozes.

Filme de Mohammad Rasoulof sob pressão das autoridades iranianas

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De acordo com Babak Paknia, advogado do cineasta Mohammad Rasoulof, as autoridades iranianas estão a exercer uma forte pressão para que o seu cliente retire o seu último filme, “The Seed of the Sacred Fig”, do Festival de Cinema de Cannes, onde concorre à Palma de Ouro.

Numa publicação no X, antigo Twitter, Babak afirmou que vários atores e produtores do filme foram convocados e interrogados na semana passada pelas autoridades. O causídico disse ainda que as autoridades iranianas também os pressionaram para convencer Rasoulof a retirar o filme do festival.

Paralelamente a estes interrogatórios, alguns dos atores do filme foram proibidos de sair do país.

Recorde-se que Rasoulof, que ganhou o Urso de Ouro da Berlinale em 2020 por “There Is No Evil [4]“, foi encarcerado pelas autoridades iranianas em julho de 2022, depois de ter publicado um apelo às forças de segurança iranianas para que deixassem de utilizar armas durante os protestos provocados pelo desabamento de um edifício na cidade de Abadan, no sudoeste do país. Ele foi libertado em fevereiro de 2023 por razões de saúde.

No ano passado, em maio, Rasoulof foi proibido de sair do Irão para integrar o júri da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes.

Kristen Stewart e Oscar Isaac em “Flesh of the Gods”

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Kristen Stewart e Oscar Isaac vão protagonizar “Flesh of the Gods“, um thriller realizado de Panos Cosmatos, o realizador de “Mandy”. Escrito por Andrew Kevin Walker (“The Killer“), o filme será produzido por Adam McKay e Betsy Koch, da Hyperobject Industries, e por Oscar Isaac e Gena Konstantinakos, da Mad Gene Media. As rodagens estão previstas para o final deste ano.

Em “Flesh of the Gods” estamos em Los Angeles, nos anos 80. É aí que “o casal Raoul (Oscar Isaac) e Alex (Kristen Stewart) desce todas as noites do seu luxuoso apartamento num arranha-céus e dirige-se para um reino noturno. Quando se cruzam com a misteriosa e enigmática Nameless e as suas festas, Raoul e Alex são seduzidos para um mundo glamoroso e surrealista de hedonismo, emoção e violência.

Recorde-se que wm 2022, foi anunciada uma parceria de Cosmatos com a A24 para a realização de uma fantasia de ficção científica chamada “Nekrokosm“. Esse projeto ainda está em desenvolvimento, com Maegan Houang a escrever o guião a partir de uma história idealizada por ela e Cosmatos.