Domingo, 28 Abril

«Nurse 3D» (A Enfermeira) por Jorge Pereira

Depois de ter trabalhado como assistente e diretor de segunda unidade em quase todos os filmes de Robert Rodriguez, o realizador Douglas Aarniokoski estreou-se por sua conta com o apocalíptico filme canadiano de baixo orçamento The Day – O Dia da Condenação, uma obra que sem nunca maravilhar criava um clima de tensão e entretenimento perfeitos para qualquer sessão da meia-noite em festivais de género.

Um ano depois e certamente contaminado pela colaboração frequente com Rodriguez, Arniokoski avançou para A Enfermeira, um nítido trabalho algures entre as figuras hiperbólicas da emancipação e vingança feminina dos filmes exploitation dos anos 70 e 80, a maioria das quais era a típica dama indefesa que virava vigilante/vingadora após um crime de pudor, e o softcore kitsch dos anos 80.

Vendido inicialmente nos mercados [Cannes, Berlim e AFM] como um misto de Dexter com Jovem Procura Companheira, e mais tarde repetido pelas atrizes em inúmeras entrevistas da mesma forma, este é essencialmente um thriller erótico softcore com tendências derradeiramente de horror gore onde, apesar da nossa vilã e predadora ter por hábito caçar a punir homens infiéis, terá como a sua maior vítima uma jovem estagiária (Katrina Bowden) sob a sua alçada que vai sofrer na pele o que dá desprezar a nossa enfermeira após uma louca noite de copos e sexo.

Porém, e acima de tudo, estamos na presença de um filme desequilibrado e a dois tempos, daqueles exemplos forçados onde se pensa, erradamente, que basta descarregar um ambiente e estilo retro para viajarmos concretamente a essa era ou género. É que se de um lado temos nitidamente uma Paz de la Huerta a primar no seu estatuto de vilã sexy profundamente caricatural e de interpretação forçada, espampanante e teatral, nem que seja por durante todo o filme caminhar como se estivesse numa passerelle e a fazer “olhinhos” para o espectador, do outro temos Bowden, que embora mostre mais pele que o habitual, carimba a sua interpretação com um realismo ingénuo demasiado frouxo, pouco convincente e tentativamente naturalista que desvirtua uma obra onde o humor negro e o over the top deveriam ser os maiores trunfos.

E mesmo quando esta ganha atitude e (tardiamente) assume a luta, é sempre uma batalha desigual e desinteressante, como se ambas estivessem em filmes diferentes, destacando-se somente os seus corpos, sempre bem enquadrados e acompanhados (de cima a baixo) pela câmara de Aarniokoski.

Como tal, A Enfermeira nunca chega a funcionar em pleno e para uma obra que tinha como base uma enfermeira sexy, travessa e homicida, que para além disso é obcecada por sexo, seria de esperar muito mais do que um entretenimento intermitente, um cunho visual meramente competente, uma vertente thriller que nunca tem suspense e um horror que se cinge a sangue a jorrar a cântaros – que nem assusta nem diverte o espectador.

Ainda assim, Paz de la Huerta e a sua Abby Russell conseguirão certamente entrar numa eventual continuação/atualização do fantástico livro que Kier-la Janisse assinou há uns anos atrás e que se inspirava num filme de 1974: House of Psychotic Women.

O Melhor: Paz de la Huerta mostra que não é preciso ser boa atriz para dominar um filme
O Pior: Como exploração crua, A Enfermeira promete demasiado e entrega pouco


Jorge Pereira

Notícias