Sábado, 4 Maio

«La Cour de Babel» por Roni Nunes

O divulgador da ciência Carl Sagan dizia que “a ciência não é perfeita, mas neste momento é o melhor que temos.” Em termos políticos, a democracia ocidental está igualmente longe da plenitude, mas as suas tradições de tolerância republicana começam a ganhar um valor especial diante da lamentável viragem de parte do eleitorado francês para a extrema-direita.

São os conceitos que guiaram os idealistas do passado na raiz das instituições modernas que estão por trás das “escolas de acolhimento” abordadas neste documentário de Julie Bertucelli (de A Árvore). É onde vão parar os jovens que chegam à França a acompanhar as suas famílias – fugindo de realidades duras nos seus país de origens ou, mais simplesmente, em busca de um futuro melhor ou de aperfeiçoamento técnico. Estes estabelecimentos de ensino servem para que os recém-chegados aprendam francês para, posteriormente, poder frequentar uma escola normal.

A cineasta documenta o quotidiano de uma destas escolas, reconstruindo as histórias de vida, os desejos, as dificuldades e os sonhos dos adolescentes de uma delas. O resultado final peca por uma abordagem demasiado académica e pouco imaginativa, utilizando apenas ocasionalmente outros recursos, como a música, e nunca abandonando os planos próximos e os espaços fechados da sala de aula.

Assim, dificilmente as experiências relatadas alçam o filme a algo maior, piorando particularmente quando Bertucelli cede a diversos clichés do género, como as despedidas, os momentos emocionais e onde nem falta um concurso de talentos contra os quais a turma abordada tem de concorrer.

De qualquer forma, com a absoluta falta de memória coletiva de um eleitorado francês que esquece as experiências falhadas de todos os nacionalismos exacerbados e os reinados de violência e terror que geraram, vale a pena lembrar que a tolerância e a inclusão nem sempre foram valores estranhos aos europeus.

O melhor: a lembrança da tolerância como valor na raiz das tradições institucionais republicanas
O pior: abordagem pouco imaginativa e com vários clichés


Roni Nunes

Notícias