Quinta-feira, 2 Maio

«Viola» por Roni Nunes

Filme tão surpreendente e inusitado quanto eventualmente frustrante. O realizador argentino Matias Piñero submete o espectador a uma profusão de planos fechados que o introduzem nos bastidores de uma peça de teatro onde quatro atrizes não só reproduzem, recitam e interpretam um amálgama de textos shakespearianos, como discutem relações afetivas e formas de encarar os relacionamentos. Mas isto é só o começo.

Com uma conexão deliberadamente frágil, os espaços aumentam e os planos também, fixando as movimentadas ruas de uma Buenos Aires onde movimenta-se de bicicleta Viola (María Vilar). Bem menos pretensiosa do que as atrizes, ela faz entregas de encomendas feitas através da internet à empresa caseira que tem com o namorado. Mas, longe de seguir numa trajetória palpável, o realizador direciona o seu filme para lugares insuspeitos, culminando com um final tão cómico e insólito quanto abrupto.

“Viola”, com a sua curta duração, acaba por ser frustrante exatamente por ficar mais do que evidentes as potencialidades de Piñero, particularmente no primeiro trecho, onde alia um texto rebuscado com um trabalho de câmara magnífico. Respeitando as opções que deu para a sua história, fica-se a pensar no que seria do filme se as ambições do cineasta se direcionassem para um enfoque mais tradicional, onde a forma com que introduz e relaciona as personagens ausentes com as que se vêm no ecrã poderiam gerar, quem sabe, um grande filme.

O Melhor: o texto e o trabalho de câmara do primeiro terço
O Pior: a opção por não explorar as potencialidades da história


Roni Nunes

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