Sexta-feira, 3 Maio

IndieLisboa 2013: «Doméstica» por João Miranda

Num projeto curatorial enorme, Gabriel Mascaro procurou alunos de escolas que tivessem empregadas domésticas com histórias interessantes. Para isso, efetuou em conjunto com as escolas uma série de composições e entrevistas, em cidades diferentes, tendo chegado a 13 alunos finais a quem deu uma câmara de filmar e pediu que tentassem, numa semana, filmar a sua relação com a sua empregada. Dessas 13 fontes, Mascaro selecionou as imagens de 7 e montou-as no filme que vemos agora. Mais do que o interesse desse processo curatorial e das questões que se podem levantar sobre a autoria e sobre o processo de realizador, este filme mostra-nos uma relação que, segundo a produtora do filme, vem em linha direta das grandes plantações e da escravatura.

O Brasil é um país com grandes desigualdades e a condição feminina tem-se alterado de forma a que muitas vezes seja necessário empregar alguém, não só para efetuar as tarefas domésticas, mas também educar as próprias crianças. Partindo do ponto das crianças, já dentro da casa e com uma relação de proximidade relativa com a empregada, o filme consegue mostrar várias realidades e estratos sociais diferentes. Não só vemos o quotidiano das empregadas, mas vemos também apresentações dos adolescentes, as diferentes casas e níveis de vida, a auto-representação de algumas delas, as relações e a variação da proximidade em cada caso, a história pessoal contada na primeira pessoa (com a restrição de que está contada ao filho de quem as emprega) e muitos outros elementos, orais e visuais, que poderiam encher páginas de ensaios em várias áreas.

Se o cinema pode ter um papel social ativo, este filme consegue-o de uma forma que um documentário filmado de forma tradicional não conseguiria.

O Melhor: O conceito e o resultado.
O Pior: Nem sempre a qualidade é a melhor (a produtora disse que as primeiras filmagens foram quase todas ignoradas e que tiveram de dar indicações básicas como usar tripé e não gravar em sítios demasiado barulhentos).


João Miranda

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