Num projeto curatorial enorme, Gabriel Mascaro procurou alunos de escolas que tivessem empregadas domésticas com histórias interessantes. Para isso, efetuou em conjunto com as escolas uma série de composições e entrevistas, em cidades diferentes, tendo chegado a 13 alunos finais a quem deu uma câmara de filmar e pediu que tentassem, numa semana, filmar a sua relação com a sua empregada. Dessas 13 fontes, Mascaro selecionou as imagens de 7 e montou-as no filme que vemos agora. Mais do que o interesse desse processo curatorial e das questões que se podem levantar sobre a autoria e sobre o processo de realizador, este filme mostra-nos uma relação que, segundo a produtora do filme, vem em linha direta das grandes plantações e da escravatura.
O Brasil é um país com grandes desigualdades e a condição feminina tem-se alterado de forma a que muitas vezes seja necessário empregar alguém, não só para efetuar as tarefas domésticas, mas também educar as próprias crianças. Partindo do ponto das crianças, já dentro da casa e com uma relação de proximidade relativa com a empregada, o filme consegue mostrar várias realidades e estratos sociais diferentes. Não só vemos o quotidiano das empregadas, mas vemos também apresentações dos adolescentes, as diferentes casas e níveis de vida, a auto-representação de algumas delas, as relações e a variação da proximidade em cada caso, a história pessoal contada na primeira pessoa (com a restrição de que está contada ao filho de quem as emprega) e muitos outros elementos, orais e visuais, que poderiam encher páginas de ensaios em várias áreas.
Se o cinema pode ter um papel social ativo, este filme consegue-o de uma forma que um documentário filmado de forma tradicional não conseguiria.
O Melhor: O conceito e o resultado.
O Pior: Nem sempre a qualidade é a melhor (a produtora disse que as primeiras filmagens foram quase todas ignoradas e que tiveram de dar indicações básicas como usar tripé e não gravar em sítios demasiado barulhentos).
João Miranda