Segunda-feira, 29 Abril

«Duch, le maître des forges de l’enfer» por João Miranda

O regime dos Khmer Vermelhos só durou quatro anos, mas nesse tempo terão eliminado um quarto da população do Cambodja, 1,8 milhões de pessoas. Apesar de tudo se ter passado há mais de 30 anos, ainda estão a decorrer processos judiciais contra alguns dos elementos desse regime. Kaing Guek Eav, conhecido como Duch, é um desses elementos, por isso a identidade deste filme não pode ser conhecida no programa do doclisboa por ordem judicial.
Rithy Panh, realizador cambodjano que teve de fugir, após a morte dos seus pais em campos de reabilitação, já realizou outros documentários sobre o tema. Aqui, teve a oportunidade de entrevistar Duch, de o confrontar com provas e de o filmar. Com mais de uma centenas de horas de entrevista, o resultado final é este filme.
 
Duch é uma personagem difícil de compreender: culto e inteligente, consegue mostrar as dificuldades de navegar um regime que procurava dar “o grande passo em frente”, negando o passado, qualquer oposição ou mesmo variação de pensamento. Inicialmente à frente da prisão M13, Duch foi enviado para chefiar a S21, onde morreram pelo menos de 12 mil pessoas, infame pela tortura que aí decorria e por ser o local onde os elementos do Comité Central foram enviados quando surgiram divisões aí.
 
A defesa de Duch é semelhante à de outros que participaram de regimes ditactoriais violentos: “estava a fazer o meu trabalho e, se me negasse, rapidamente seria eu o torturado”. A natureza do Mal é complexa e esta entrevista com Duch ilustra-o, sem nunca chegar a nenhuma conclusão. Como em todas estas coisas, a pessoa entrevistada parece querer justificar-se, podendo passar-se uma imagem diferente do que se passou. Dá ideia que Rithy Panh conseguiu evitá-lo.
O Melhor: A complexidade de Duch e a recusa de a simplificar.
O Pior: Falta algum contexto sobre os Khmer Vermelhos, para quem desconhece esse regime.
 
 
 João Miranda
 

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