Vic (Pierrette Robitaille) é uma ex-presidiária de 61 anos a quem fora devolvida a liberdade. Decidida a começar uma vida nova, ruma para as florestas do Quebec para iniciar um novo ciclo ao lado da sua companheira, a também ex-presidiária Flo (Romane Bohringer), numa cabana isolada da civilização, a fim de evitar qualquer confrontação com o seu passado.

Após a sétima obra, o cineasta canadiano Denis Côté estreia, por fim, no nosso circuito comercial com Vic+Flo Viram um Urso, aquele que é talvez o seu mais acessível produto desde então. Esta é uma história sobre conflitos com o passado e as replicas nas suas personagens, tudo manufacturado num conto de reintegração social onde o autor expõe e planifica uma visão quase de hipermetropia (eis um filme com uma certa obsessão pela estético dos planos gerais). A fotografia, como também os cenários, é predominada por tons cinzentos que instalam uma melancolia visual e narrativa, um ambiente natural para com as personagens de teor “trágico”, complexas ao mesmo tempo que carrancudas, de árdua cativação e de uma natureza fria e despida de qualquer euforia (intercalando por certas sequências entre “risos” e “brincadeiras” com um cinismo alarmante para o tom da fita).

Vic+Flo Viram um Urso é um filme difícil de agradar, aliás, sente-se em toda a obra de Denis Côté uma aversão pelo espectador, uma liberdade artística sem acréscimos nem justificações e a recusa pelos trilhos óbvios e usuais (mesmo que as personagens principais sejam um casal homossexual, em momento algum o autor demonstra intimidade ou até mesmo sexualidade).

O “urso” do titulo é um passado que vagueia e que ocasionalmente vem ao nosso encontro, sem aviso prévio, deixando assim a sua marca e presença. Sarcástico, isento de esperança e apelo pelas suas personagens (Côté é psicótico nesse termo, nem ele possui compaixão pelas suas criações), Vic+Flo Viram um Urso poderá funcionar como um bilhete de incentivo a um autor e cinema que resiste graças a nichos marginais.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
vic-flo-ont-vu-un-ours-vic-flo-viram-um-urso-por-hugo-gomesDenis Côté chega, por fim, ao nosso circuito comercial