Domingo, 28 Abril

«The Descendents» (Os Descendentes) por André Gonçalves

Com acção no Hawai, “Os Descendentes”, primeiro filme de Alexander Payne em sete anos, segue a história de Matt King, um advogado num processo de venda de uma propriedade que está na sua família há séculos, enquanto a sua mulher Elizabeth, se encontra em coma profundo após um acidente de barco. Entre estas duas situações, Matt tenta aproximar-se das suas filhas, ao mesmo tempo que descobre uma cruel verdade sobre o seu relacionamento.  

“Os Descendentes” fala de temas fortes como a Família, a Morte, o Amor e o Perdão, com um calculismo e uma condescendência em relação aos seus personagens, consequentemente transferida para o espectador, que sabotam qualquer “pathos” que daqui advenha. Além disso, Payne parece ter medo que o público não goste, ou pior (!), não perceba o seu filme ou onde esteja, e daí exponha ainda mais o seu caso, ou tenha transições óbvias entre cenas (através de uma linha de diálogo de uma personagem). Felizmente, o “voiceover” desaparece na segunda metade. A condescendência, no entanto, permanece até aos créditos finais. 

Independentemente de se conseguir ligar emocionalmente ou não a esta história – e pelos vistos, as probabilidades até jogam a favor, se olharmos para a bajulação crítica em tudo semelhante a “Sideways” – encontrará aqui um filme que se acompanha muito bem, com uma piada certeira aqui e ali, e com interpretações bem consistentes, mesmo que George Clooney não se consiga livrar do complexo “George Clooney”. O destaque no campo das performances vai mesmo sobretudo para as estreantes Shailene Woodley e Amara Miller, e para Judy Greer, que em apenas três cenas ajuda a construir a personagem mais humana e solta que aqui nos é apresentada. 

“Os Descendentes” não é um mau filme, saliente-se, o que torna tudo mais frustrante. É apenas um filme que, mesmo com a sua esperteza (ou pelo excesso dessa esperteza?), se revela distante, indiferente, e que me deixou frio e de olhos bem secos. Ainda assim, é como disse: a probabilidade de sair do filme mais animado e choroso que eu é elevada, por isso, talvez valha a pena arriscar, sobretudo se adorou um “Sideways”, por exemplo… 


O Melhor: As performances femininas, num filme algo machista.  

O Pior: A condescendência de Payne. 
 
 
 André Gonçalves
 

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