Em «Tambien la lluvia», realizado por Icíar Bollaín (“Te doy mis ojos “), e com o argumento do seu parceiro sentimental Paul Laverty, seguimos um produtor (Luis Tosar) e um realizador de cinema (Gael Garcia Bernal) que chegam à Bolívia para filmar uma obra sobre a conquista espanhola de Santo Domingo. A meio da rodagem, de um filme que evoca o confronto dos expedidores colonialistas e os nativos, toda a equipa da obra terá de lidar com os protestos das populações locais contra a privatização da água. Então quando um dos seus actores principais se transforma num dos maiores incitadores da luta contra o negócio da água, todas as filmagens se vêm afectadas, num país à beira de uma verdadeira guerra entre Governo e populações. Com isto, o elenco do filme (dentro do filme) começa a sentir enormes preocupações, sendo curioso vir ao de cima acções e ideias que vão contra tudo o que as personagens que interpretariam no filme lutaram.
«Tambien la lluvia» tem o dom de ser um tema muito contemporâneo e de forma quase paralela comparar eventos do passado, ligados ao colonialismo, com a nova ordem económica, em que basicamente os países e as populações ficam reféns do mercado. Para um português o tema não podia estar mais na ordem do dia, tendo em conta as privatizações que se vão efectuar e que nos vão deixar completamente desamparados em elementos básicos da subsistência humana (sim, podem me chamar alarmista).
Protagonizado com muita dedicação por um Luis Tosar irrepreensível, e um Gael Garcia Bernal em transformação pessoal e crise de identidade ao longo do filme, esta é uma obra importante, com muito humanismo e questões sobre o capitalismo fulcrais e que demonstra, mais uma vez, que o cinema espanhol têm uma genica e uma indústria capaz de rivalizar com qualquer outra cinematografia.
A não perder..
O Melhor: Como explicas a uma pessoa que ganha 2 dólares por dia que tem de pagar 450 dólares por ano em água?
O Pior: Há cenas filmadas com extras bolivianos que estão muito mal conseguidas
| Jorge Pereira |
