Segunda-feira, 29 Abril

«W.» por André Gonçalves

Chegando na altura perfeita – a duas semanas das eleições presidenciais norte-americanas – “W.” passa em revista em pouco mais de duas horas cerca de quarenta anos de vida do homem que muitos consideram um dos piores presidentes norte-americanos de sempre: George W. Bush.

Sob a alçada do (quase) sempre incendiário Oliver Stone, esperava-se umas das sátiras mais aguçadas dos últimos anos… No entanto, o resultado é infelizmente bem mais seguro e consensual que o esperado e Stone, numa tentativa algo esquisita de tentar agradar a gregos e a troianos (neste caso, a republicanos e a democratas), esconde as garras durante a maior parte do tempo. Quase dá vontade de gritar “Volta Alexandre, estás perdoado!”, tal é a falta de espírito guerreiro que se faz sentir.

O realizador e o argumentista Stanley Weiser apresentam-nos não só factos já conhecidos do grande público como escolhem um método cada vez mais “academizado” para os mostrar, alternando passado mais recente com o passado mais antigo numa sequência de “flashbacks” tão bem metidos à partida que se tornam rotineiros.

No entanto, e apesar destes pequenos grandes problemas que impedem o filme de atingir voos mais altos, “W.” conta com alguns trunfos importantes na manga. Para começar, e apesar da estrutura convencional de “biopic”, nunca aborrece o espectador, feito raro sobretudo com a duração acima da média. E depois há Josh Brolin no papel de Bush, que constrói ironicamente a personagem que mais consegue fugir à caricatura fácil, conferindo um toque humano a um papel que pareceria à partida o mais fácil de se exagerar.

No que diz respeito ao restante elenco (provavelmente o elenco do ano, com tanto nome conhecido a fazer uma aparição), temos algumas surpresas, nomeadamente uma irreconhecível Thandie Newton no papel de Condoleezza Rice. Mas fica-se com a sensação que saíram de um “sketch” qualquer com menos piada do que pensam ter, tal é a falta de profundidade das respectivas personagens. Uma pena ver tanto potencial desperdiçado, portanto.

A certa altura do filme, Bush é questionado sobre o lugar que irá ocupar na História. Seria interessante fazer a mesma pergunta ao próprio filme e aos seus respectivos criadores… para já, fica a sensação de que se está perante um bom documento histórico para o futuro, fiel e bem intencionado, mas sem o arrojo necessário para atingir o patamar de excelência que tanto fazia prometer.

 

André Gonçalves

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