Quinta-feira, 25 Abril

Porto/Post/Doc regressa sábado com as Identidades na cabeça (e também no coração)

Arranca este sábado, 23 de novembro, a 6ª edição do Porto/Post/Doc, festival que regressa à cidade do Porto até 1 de dezembro, em vários espaços (Teatro Municipal do Porto – Rivoli, Cinema Passos Manuel, Planetário do Porto).

O grande desafio para qualquer edição do Porto/Post/Doc é sempre o mesmo: que o público participante se reveja – de alguma forma – na programação que escolhemos“, explicou ao c7nema Dario Oliveira, diretor do festival, cuja programação este ano incide no tema das Identidades, que é transversal a todas as secções.

Durante meia década escolhemos temas dentro do Cinema, desta vez decidimos sair fora dele e pegar em algo que está em grande convulsão, pois tem a ver com os graves problemas deste anunciado fim da época capitalista e das problemáticas que são políticas, sociais e de género. Estas Identidades são muito complexas e muito extensíveis a vários campos: podem ser artísticas, culturais, da tradição, de género, etc. Todas elas vão ser aqui abordadas a partir deste ano“, afirmou Dario, acrescentando que este tema vai mesmo gerar mais uma seção nova do festival em edições futuras.

Fórum do Real

O Fórum decorre entre os dias 27 e 29 de novembro, no Cinema Passos Manuel, e conta com três painéis de oradores: o painel Da Terra, que problematiza a relação entre a construção identitária e o território; o do Pensamento, que visa uma aproximação de teor filosófico ao próprio conceito de identidade e de identidades, no plural; e das Imagens, que pretende refletir sobre o cinema contemporâneo e o seu entretecimento com os mais diversos fluxos identitários, individuais e coletivos.

Este é um tema que me atrevo a dizer que vai interessar às pessoas, pois fala-se bastante de muitas questões sem nunca as desenvolver e é isso que vamos procurar aqui através dos filmes, das escolhas dos realizadores, da presença dos mesmos e de muitos outros convidados do Fórum“. 

Cinema Falado e Cinema Novo

Uma das grandes apostas do festival é a sua secção não competitiva Cinema Falado, onde se encontram várias obras faladas em português, mas também da Galiza, uma área geográfica com enorme afinidade com o nosso país e que merece estar aqui presente segundo a organização do evento.

O último filme do galego Eloy Enciso, Longa Noite, que abriu o doclisboa este ano, é uma das presenças nesta secção, que conta ainda com Viveiro, filme premiado no certame lisboeta, mas que ganha nova dimensão neste evento nortenho: “O Viveiro tinha de ter uma estreia local e vai ter um enorme significado, porque o filme retrata uma coletividade desportiva de Arcozelo, que é aqui ao lado, e essa sessão vai ser o momento em que os intervenientes, aquela equipa de futebol, vai assistir pela primeira vez à obra no Porto/Post/Doc. Este momento de celebração é dos momentos mais bonitos do festival. Podermos ter os protagonistas, o objeto do filme, aqui, ao vivo na sala, a rever-se no ecrã. Isto é o cinema em todo o seu esplendor“, diz Dario.

O premiado em Vila do Conde, Ave Rara, é outra das presenças notáveis, onde se incluem ainda Raposa de Leonor Noivo, e uma dupla de filmes ligados a Pedro Costa (Sacavém de Júlio Alves e Vitalina Varela, do próprio cineasta). Em estreia encontramos ainda Sério Fernandes – O Mestre da Escola do Porto, de Rui Garrido; e No Porto de Leixões, de Renata Sancho.

Já na competição Cinema Novo, onde o festival espera trabalhos que pronunciem a rutura (“estéticas, sociais, políticas, individuais“), uma nota de atenção para Gastão de Tânia Teixeira, que acompanha um homem que na sua pequena embarcação a resgatar corpos do rio Douro; e Um Homem Não É Um Homem Só, onde o realizador Alberto Seixas acompanha Luís Neves Real (1910-1985), um homem que dedicou a sua vida ao Cinema, à Matemática e à Mãe.

Focos em Ute Aurand e Audrius Stonys

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Dario Oliveira confidenciou-nos que há muito desejava fazer um foco no trabalho de Stonys, mas que só agora foi possível fazê-lo devido ao apoio do Instituto de Cinema da Lituânia. Quanto ao objetivo destes focos, o diretor e programador explica que o propósito do festival não é ir buscar cineastas consagrados, nem fazer retrospectivas integrais, mas sim criar “focos em alguma parte das obras” de cineastas que estão “numa fase importante do desenvolvimento da sua própria linguagem cinematográfica“: “É o caso do Audrius Stonys, que está a meio da sua carreira” e de Ute Aurand, que tem apostado agora em longas-metragens, marcando igualmente presença na competição internacional o seu mais recente projeto: Rushing Green With Horses.

Competição Internacional

Quer se goste ou não dela, Anna Odell é um dos nomes mais marcantes desta secção. A antiga aluna de arte, que simulou uma tentativa de suicídio em 2009 numa ponte sueca para um projeto artístico (e foi a tribunal por isso), já tinha visto o seu The Reunion ser exibido no evento portuense, e agora traz até à Invicta o seu mais recente filme, XY , projeto no qual divide o ecrã com o ator Mikael Persbrandt, a fazer dele mesmo e a sugerir o macho alfa: “Sinto-me atraída pelo que assusta e atrai e isto é algo que a sociedade precisa olhar sob uma nova perspetiva“, disse Odell na altura do lançamento do filme, novamente controverso, até porque estamos perante uma produção cujo debate se estendeu após a sua exibição. Odell vai estar no Porto, bem como outros cineastas desta secção competitiva.

Nós acabamos por ter este carinho, curiosidade e acompanhamento dos cineastas que gostamos, procurando sempre ver o seu novo filme e integrá-lo – de alguma forma – na programação“, diz Dario Oliveira, adicionando que de uma forma outra, todos os nove filmes em competição estão ligados a uma questão identitária.

Isso mesmo é extremamente visível em Transnitra, filme de Anna Eborn que segue a vida de um grupo de adolescentes na Transnístria, um território [também abordado no brilhante Fortress em 2011] que ainda vive na sombra do legado da União Soviética. O novo trabalho de Kim Longinotto – documentarista britânica, cujos filmes focam-se na condição da mulher – leva ao Porto/Post/Doc o seu Shooting The Mafia, trabalho que mostra a vida a fotógrafa italiana Letizia Battaglia, famosa por cobrir fotograficamente os crimes da máfia na região de Palermo.

Há ainda produções de Ben Rivers & Anocha Suwichakornpong, Andreas Horvath, Yosep Anggi Noen, Gaia Formenti e Marco Piccarreda, não esquecendo o já referido trabalho de Ute Aurand.

Pop & Rock

O Porto vai assistir à estreia nacional de O Filme do Bruno Aleixo, de João Moreira e Pedro Santo, película na qual a personagem coimbrã de ascendência brasileira é desafiada a fazer um filme: “Um brainstorming à beira de uma esplanada e à medida que cada um deles vai apresentando ideias, as ideias vão sendo apresentadas no ecrã“, explicaram os criadores das personagens e realizadores deste filme nos últimos Encontros do Cinema Português.

A música vai também estar em destaque, e se na secção Highlights exibe-se Zé Pedro Rock & Roll, na Transmission responde-se com Um Punk Chamado RibasRyuichi Sakamoto, os Suede e New Order são também autores a considerar na programação, que não falha em dar um olhar cuidado a grandes autores do cinema, com a exibição de filmes de Paulo Rocha (cópias digitalizadas de A Ilha dos Amores e A Ilha de Moraes), um olhar ímpar sobre Andrey Tarkovsky e uma série de curtas-metragens da videasta Carole Roussopoulos, que terá destaque com três trabalhos ativistas, executados nas décadas de 1960 e 1970.

Projeto educativo

Um dos pilares do Porto/Post/Doc é o seu projeto educativo. “Não só sessões escolares“, diz-nos Dario Oliveira, mas um “trabalho concertado com as escolas da cidade, os serviços educativos da Câmara Municipal do Porto, e o Plano Nacional de Cinema do Ministério da Educação”. Desde setembro, no início do primeiro trimestre, até ao início do festival, têm decorrido cerca de 43 oficinas ligadas ao cinema e ao tema das Identidades, com 43 turmas diferentes, desde o pré-escolar até ao ensino artístico: “a missão é combater a iliteracia através do Cinema e das imagens em movimento”.


 

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