Despede-se hoje de Lisboa a Kino – Mostra de Cinema em Expressão Alemã, evento que decorre desde o dia 24 de janeiro.
O filme de encerramento é o mais recente trabalho de Markus Schleinzer, ator que frequentemente participa no cinema de Michael Haneke (A Pianista, O Tempo do Lobo, Laço Branco) e que em 2011 se estreou na realização com o poderoso Michael. Agora ele traz à Kino, Angelo, uma obra baseada em factos verídicos e que conta a história de um africano nascido no século XVIII que é transportado para a Europa com 10 anos.
Tal como o seu antecessor [Michael], Angelo é um trabalho pungente que analisa a (des)humanidade e como a raça aristocratica branca se considerava superior, usando o pequeno Angelo como um animal exótico que através da aprendizagem [flauta, por exemplo] “se iria aproximar mais dos humanos“. Apesar de nunca ser usado com um escravo, mas antes um membro da família que o acolheu, Angelo nunca é visto como “normal”, nem em criança, nem em adulto, estampado na rejeição que encontra por parte da Corte quando se enamora.
Provocador, sem o ser através do choque pelo choque [é mais Haneke que Von Trier], Schleinzer pesca influências em Barry Lyndon de Kubrick para apresentar um trabalho fulminante, políticamente pertinente e formalmente impecável, que em certos pontos remete para histórias já conhecidas no cinema como a da Vénus Negra de Kechiche.
