Sexta-feira, 29 Março

A celebração do cinema independente: arranca hoje (18/06) o FEST de Espinho

 O festival chega à sua 14ª edição trazendo um leque variado de propostas que dificilmente chegarão ao circuito comercial português. Reunindo ainda uma série de atividades paralelas naquela que é uma das vocações do evento (“masterclasses” e sessões de “pitching”, por exemplo) e convidados como Asgar Farahdi e Roman Coppola (ver aqui), o certame decorre entre 18 e 25 de junho e exibe cerca de 230 filmes. De resto, com um número de inscritos já recorde de estudantes vindos de diversas partes da Europa, terá também a maior participação de sempre do público português. “Esse ano apresentamos o nosso projeto em todos os cantos do país e agora estamos a perceber que valeu a pena”, comemora Fernando Vasquez, diretor do FEST.

Entre os destaques estão as obras da Competição principal, onde a sessão de Abertura cabe ao canadiano Mobile Homes, obra de forte cunho social ao narrar a trajetória de uma mãe que perambula por quartos de motel com o filho de oito anos e o namorado toxicodependente. “De um lado é um típico cinema ‘indie’ americano, mas com uma sensibilidade europeia pelo facto do realizador ser francês. E Imogem Pots tem uma das atuações mais extraordinárias da sua carreira“, diz Vasquez.

A presença portuguesa dá-se com mais uma das histórias pouco conhecidas da cinematografia lusitana – neste caso a do italiano Rino Lupo, cujo apelido dá nome ao filme de Pedro Lino. O cineasta, que passou por Portugal nos anos 20 e deixou uma marca incontornável na profissionalização do cinema português, desapareceu de cena no início da década seguinte. Lupo é, assim, também uma investigação sobre o que terá sucedido…

Já o encerramento cabe a Club Europa, obra germânica sobre um grupo de berlinenses que acolhe um refugiado – uma opção solidária que começa por os colocar em grandes dilemas. O tema dos refugiados também está presente no austríaco Sand and Blood, que aborda a história recente de dois países destruídos pela guerra, a Síria e o Iraque. Os preconceitos e o ódio entre a extrema-direita, um outro aspeto do problema, é o tema do polaco The Celebration – Impreza, enquanto Lemonade, estreado na última edição do Festival de Berlim, será uma das propostas mais acessíveis ao narrar as dificuldades de uma família romena emigrada para os Estados Unidos.

A vasta programação do festival inclui ainda obras como I’m not a Witch, vencedora de um BAFTA e ainda ignorada em Portugal. O filme aborda o contexto cruel das crianças acusadas de bruxaria na Zâmbia. O único projeto latino-americano a marcar presença no FEST é Killing Jesus, que trata da violência em Medellín ao mesmo tempo que afirma a força da recente produção colombiana, enquanto o iraniano Blockage trata em tons satíricos da vida contemporânea no Irão e as suas dificuldades económicas.

Um verdadeiro “OVNI” é Photon, o mais experimental dos filmes em Competição e cujo realizador, o polaco Norman Leto, declarou ter abandonado o cinema para dedicar-se à pintura. Para Vasquez este híbrido entre ficção e documentário que quer falar sobre a “criação do mundo e o futuro do planeta” é “uma experiência visual e narrativa única”.

Também com estranhos contornos que chegam a roçar o terror e o fantástico, o suíço Blue my Mind utiliza “sereias” para abordar o doloroso processo de transformação adolescente, enquanto o islandês Winter Brothers, uma das seções do último Festival de Locarno, sobressai-se como uma das propostas mais premiadas do ano e uma abordagem sobre a dura relação entre dois irmãos no contexto do trabalho mineiro. “É um dos grandes filmes do ano”, afirma Vasquez.

Fora da Competição está a restauração de um dos primeiros trabalhos de Francis Ford Coppola, Dementia 13, onde o cineasta ia à Irlanda, com um orçamento exíguo providenciado por Roger Corman, para filmar uma história de terror. Trata-se da estreia internacional da nova cópia, permitindo aos cinéfilos observar a incrível trajetória de Coppola ao comparar uma pequena estreia cheia de talento que surge separada em apenas nove anos do épico O Padrinho.

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