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Seis Noites de Terror: excessos barrocos e (muito) sangue nas paredes

O Motelx abre nesta terça-feira (05/09); entre as produções, o britânico “The Limehouse Golem” (em Portugal estreia quinta-feira com o título de “Os Crimes de Limehouse”) e o canadiano “The Void”. O que ambos partilham em comum são os (eventuais) excessos de ideias e (muito) sangue pelas paredes.

 A  triste figura feminina no tempo da rainha Vitória

A argumentista Jane Goldman (que já coescreveu blockbusters como “X-Men First Class”) há de ter gasto longas horas e farturas de neurónios para equilibrar a multidão de meta-referências e reconstruções históricas de “The Limehouse Golem”.

The Limehouse Golem

O imaginário vitoriano continua a fascinar mais de cem anos depois; Goldman apoiou-se num livro dos anos 90 (do século XX) para dar uma leitura feminina à época. O tempo lembrado pelo puritanismo na superfície e pela selvageria fora da vista (a era de “Dr. Jekyll” e “Mr. Hyde”) é reconstruído com valores de produção alargados e um ator do primeiro escalão (Bill Nighy).

Tem mais: há um Sherlock Holmes mais ambíguo e mais no limite vivido por Nighy – um fleumático inspetor da Scotland Yard suspeito do “crime” de homossexualidade e uma história rocambolesca que envolve serial killers, bibliotecas e o mundo do teatro – palco para as referências metalinguísticas (o gosto do público por sangue, o ritual homicida enquanto espetáculo) e assassinatos violentos e explícitos o suficiente para o tirar da trilha de um whodunit (o que é) de telefilme (o que não é).

The Limehouse Golem

Nas voltas e reviravoltas, tudo se desenvolve sob o ritmo algo pesado da realização do espanhol Juan Carlos Medina (do paquidérmico “Insensibles”, de 2012 [ler crítica [1]]), que até deixa  escapar sem a devida leveza a anedota vinda do facto do grande e notório “rato de biblioteca” Karl Marx ser suspeito de crimes em série (!).

Prevalece a visão brutal da triste figura da mulher num mundo de abusos, violência e, na melhor das hipóteses, de paternalismo oportunista com vista a favores sexuais.

The Void

Pavor cósmico

Em “The Void” os argumentistas/realizadores Jeremy Gillespie e Steven Kostanski convidam ao mistério com uma abertura violenta, para adentrar pelo ritmo langoroso de uma terrinha algures. Mas lá há um hospital solitário na madrugada, recheado por uns poucos inocentes, outros nem por isso, cercados por encapuzados que sugerem um culto (satânico? alienígena?); quanto ao resto, basta dizer que ninguém se poderá queixar deste terror de criaturas de linhagem eighties, violento, repulsivo, sangrento e sem CGI.

Enquanto a vida se recria a partir da matéria morta, o filme adentra por caminhos complexos, tentando casar um pano de fundo místico, loucos experimentos e explicações cosmogónicas (no que o que os realizadores chamaram de “cosmic dread” – com Lovecraft na base). Vale o passeio no labirinto povoado; o “vazio” até está bem preenchido…