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FESTin 2017: “Está na hora de mudar a imagem do cinema brasileiro em Portugal”

O FESTin comemora a partir de hoje (01/03) o especial número 8. Oito anos de existência, em uma oitava edição que prolongará até oitos dias no Cinema São Jorge, recheado com o melhor de um cinema falado na língua portuguesa, a ponte cultural de oito países separados por milhas, oceanos e História. Um signo a merecer a atenção do mais vasto público, dos cinéfilos em geral, e dos curiosos que tem a oportunidade de encontrar neste evento cultural uma cinematografia rica e igualmente pouco conhecida no nosso país. Referimos ao cinema brasileiro, uma produção diversificada que luta por um espaço na memória e mercado português.

O cinema brasileiro como “espinha dorsal”

Para Roni Nunes,  programador do FESTin, a derradeira luta está em trazer uma mostra plena de um cinema que “passa por uma fase excelente, como se viu com nove longas-metragens selecionadas para a Berlinale.” O curador entende que com a qualidade do cinema brasileiro actual, era óbvio que não haveria “razões para não termos uma grande programação. Está na hora de mudar a imagem do cinema brasileiro em Portugal, que é muito associado às telenovelas, algo que não faz qualquer sentido, ou então a “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus” – que são excelentes filmes mas que, obviamente, estão longe de ser representativos do cinema do país.”

Comeback

Sim, Brasil será o país predominante do FESTin, e nele encontraremos uma “mão cheia” de estreias, tais como pernambucano Big Jato, o muito antecipado Comeback, a desforra de um pistoleiro de terceira idade e a loucura boémia dos anos 60 em Br 716, que segundo Roni Nunes, representam uma pequena fatia do melhor se produz nos dias de hoje, possuindo “uma magnífica característica, a possibilidade de agradar cinéfilos e espectadores casuais“. O certame arrancará com a exibição de O Outro Lado do Paraíso, de Andre Ristum, um relato emocionado do Brasil em plena metamorfose político-social dos anos 60.

Para acompanhar as obras, o FESTin terá imensos convidados de honra, entre realizadores e actores, equipa de produção e técnicos, presenças exaustivas que prometem estabelecer uma ligação com o público. Entre as esperadas vindas, contaremos com a presença de Mariana Ximenes, que segundo Roni Nunes é “mais do que um rosto conhecido das telenovelas, ela é uma artista que tem investido muito em cinema de autor no Brasil.” A actriz apresentará duas obras do seu currículo, ambas em Competição. Quase Memória, dirigido por Ruy Guerra, um ícone do Cinema Novo do Brasil, e Prova de Coragem, que também coproduz.

O que mudou na programação foi que enveredamos definitivamente por um caminho mais autoral e desafiante na competição – a ponto de poder dizer que, em termos de quantidade, diversidade e, principalmente, qualidade, temos a melhor montra de cinema brasileiro de Portugal.” proclama o programador.

Paixão

Lisboa, menina e moça, a capital Ibero-Americana

FESTin encerrará a edição com Elis, um retrato biográfico da cantora Elis Regina, uma das maiores da terra da Ordem e do Progresso A escolha deste filme de Hugo Prata, protagonizado por “uma das revelações do ano passado” Andreia Horta (que estará presente), não foi ao acaso, a cinebiografia de uma das mulheres mais ícones do Brasil é servida de comemoração ao Dia Mundial da Mulher.

O feminino, por sua vez, será tema importante em toda a programação do FESTin, quer pela Lisboa Capital Ibero-Americana que escolheu o festival como o evento cultural oficial desta temática, preenchido por mesas redondas, debates, actividades paralelas e claro, mais mostras de filmes. “Em termos de filmes um dos destaques é a mostra dedicada à Margarida Gil, que terá cinco dos seus principais trabalhos (“Rosa Negra”, “O Anjo da Guarda”, “Adriana”, “O Fantasma de Novais” e “Paixão” exibidos” sugeriu o programador.

Ainda com a Lisboa Capital Ibero-Americana, “o FESTin dará a conhecer, numa parceria com o Instituto Cervantes, a obra do realizador cubano Titón, que será representa pela sua ex-mulher e uma figura icónico do seu país, Mirta Ibarra.

A Floresta das Almas Perdidas

Duas grandes apostas em português de Pessoa

Comparativamente ao cinema brasileiro, Portugal é de uma produção mais pequena, mas não é por isso que deixará de estar representado nesta oitava edição do FESTin. O festival vai contar com duas antestreias lisboetas, “dois excelentes exemplares de cinema português“, afirma Roni Nunes. Integrados na Competição e vincadamente lusitanos estão Uma Vida à Espera, o regresso de “um realizador experiente na televisão, Sérgio Graciano, investindo num registo completamente diferente, onde Miguel Borges vive um sem-abrigo“, e A Floresta das Almas Perdidas, de José Pedro Lopes, “uma bela mistura de cinema de género, neste caso o terror, com arthouse – tendo como ponto de partida uma floresta conhecida por ser um lugar procurado pelos suicidas“.

Em contrapartida e questionado sobre a produção dos outros seis filmes de língua portuguesa que compõem este octógono cinematográfico, o programador referiu que “o cinema africano em língua portuguesa tem sido muito difícil de encontrar e as nossas solicitações nem sempre são atendidas com celeridade. Alguns destes países não têm indústria, outras aparecem com projetos de forma intermitente. E há países importantes na lusofonia onde a cultura é mesmo um alvo a abater. Ainda assim temos alguns projetos nas seções de curta-metragem e documentário