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Sundance abre hoje (19/01) focado no clima: “queremos salvar o mundo”

O festival criado por Robert Redford é a maior referência do cinema independente americano e um dos mais prestigiados internacionalmente. Velhos e novos nomes do mainstream hollywoodiano unem-se em projetos alternativos – particularmente na seção Premiere, enquanto trabalhos vindos de todas as partes do mundo compõe uma ampla mostra de cinema. O programa “New Climate” e o filme de abertura mostram um evento fortemente conectado com a questão climática. O festival abre hoje em Park City, no Utah, e decorre até dia 29 de janeiro. A muitas milhas de quilómetros, só resta saborear de longe as novidades e imaginar quão poucas chegarão a terras lusas…

Salvar o mundo… ou “morrer a tentar”


An Unconvenient Sequel

Um dia antes da América embarcar em tempos que se advinham politicamente sombrios (Donald Trump toma posse dia 20), Sundance abre com um Al Gore muito otimista em relação ao futuro. Pelo menos no que se refere à questão energética. An Unconvenient Sequel (de Bonni Cohen e Jon Shenk) traz, dez anos depois, uma continuação do documentário An Unconvenient Truth, onde o ex-vice-presidente democrata fazia um alerta sobre a grave crise ambiental.

Em entrevista ao New York Times, Robert Redford afirmou que o seu festival não tem política (“seria um erro”, disse), mas um dos seus programadores, Trevor Groth, foi menos contido. “Queremos mudar o mundo… ou pelo menos morrer a tentar!”.

De velhos humanos e novas tecnologias…

Em termos de destaques da programação, pode-se começar com o anfitrião: em The Discovery, Redford junta-se a Jason Segel e Rooney Mara para uma “love story” com contornos de sci-fi passada num mundo onde a vida extraterrestre tem existência comprovada pela ciência. Terceira idade e tecnologia também em Marjorie Prime, com Jon Hamm, Geena Davis e Tim Robinson, onde uma idosa tenta reconstruir a sua vida com apoio de um computador e da inteligência artificial, enquanto outro encontro de gerações se dá em The Last Word, que une Shirley MacLaine, Amanda Seyfried e Anne Heche.

…a comédias leves e tragicómicas…


Beatriz at Dinner

Em Beatriz at Dinner há Salma Hayek, John Lithgow e Chlöe Sevigny numa comédia onde uma praticante de medicina holística frequenta o jantar de um cliente rico; os veteranos Holly Hunter e Ray Romano, por seu lado, fazem par na comédia romântica The Big Sick e The Polka King tem Jack Black, Jason Schvartzman e Jacki Weaver na reconstrução biográfica e tragicómica do “rei da polka” na Pennsylvania, o também embusteiro profissional Jan Lewan.

…passando por épicos literários…

Mudbound traz Carey Mulligan, Jason Clarke, Mary J. Blidge, Garrett Hedlund, entre outros luminares, para compor um épico baseado numa história de duas famílias passada em Memphis após a 2ª Guerra Mundial – baseado no best-seller homónimo de Hilary Jordan.

Nicholas Hoult aparece ao lado de Kevin Spacey em Rebel in the Rye, um episódio biográfico de J. D. Salinger, autor de um dos grandes clássicos da literatura norte-americana, Catcher in the Rye (Uma Agulha num Palheiro). Hoult protagoniza ainda o drama romântico Newness – onde faz par com a catalã Laia Costa.


Newness

Escritores misteriosos também em Sidney Hall, que conta a história de um jovem escritor de sucesso (Logan Lerman) que desaparece da vida pública. Elle Fanning, Kyle Chandler e Michelle Monaghan são outros nomes do elenco.

Da Europa vem Call me by Your Name (baseado na novela de André Aciman, que narra o romance homossexual entre dois jovens), uma coprodução franco-italiana realizada por Luca Guadagnino, o mesmo do intenso A Bigger Splash – com argumento do veteraníssimo James Ivory. Armie Hammer protagoniza.

…e almas solitárias…

Where Is Kyra? reúne Michelle Pfeiffer e Kiefer Sutherland e apresenta a conexão entre duas almas marcadas pela extrema solidão; em Wilson Woody Harrelson é um misantropo e aficionado por cães que descobre ter uma filha adolescente que nunca conheceu e embarca na tentativa de ter uma família; Laura Dern é a sua esposa.

…com espaço para statements artísticos…


Manifesto

Das propostas mais radicais é Manifesto, onde Cate Blanchett entra numa obra do artista alemão Julian Rosenfeld, especialista em instalações com imagem e vídeo, onde assume 13 diferentes performances pela história dos “manifestos” – começando pelo Comunista de Karl Marx, passando pelo Futurista de Tommaso Marinetti e terminando com Jim Jarmusch e o seu Golden Rules of Filmaking.

…enquanto pelo mundo afora…

Na seção World Dramatic a “síndrome de Estocolmo” vira Berlin Syndrome no novo trabalho da australiana Cate Shortland depois do estupendo Lore. Novamente passado na Alemanha, conta a história de uma turista (Teresa Palmer, a sósia mais bonita da Kristen Stewart) trancafiada num apartamento por um apaixonado obsessivo.

Já do Brasil aparece Don’t Swallow My Heart, Alligator Girl! (título internacional espalhafatoso para o mais modesto “Não Devore o meu Coração” do original) – filme de Felipe Bragança que não só convenceu os programadores de Sundance como os do Festival de Berlim – onde será exibido em fevereiro. O enredo trata de um romance adolescente na fronteira entre Brasil e Paraguai – onde se desenrola uma disputa por terras entre grupos rivais. Estrelado por Cauã Reymond e com participação de Ney Matogrosso.


The Wound

Também selecionado para a Berlinale é The Wound, obra de estreia do sul-africano John Trengove que aborda uma infinidade de temas – desde o conflito entre tradições ancestrais e modernidade, a questionamentos da identidade sexual e homossexualidade numa remota comunidade africana.

Terrores artísticos

Sundance traz ainda a sua prestigiosa mostra de documentários, dividida entre as seções “World Dramatic” e “Documentary Premieres”, enquanto a “Next” tenta antecipar novas tendências e a “New Frontier” dedica-se a trabalhos mais experimentais. Destaque ainda para a seção “Midnight” – reunindo uma das vias do cinema contemporâneo – a fusão de terror com arthouse.

Um toque português

Depois de ter sido exibida numa dezena de festivais, os portugueses André Santos e Marco Leão vão apresentar a curta-metragem “Pedro”, na competição oficial.