Quinta-feira, 28 Março

Guia completo da 64ª edição do Festival de San Sebastian

Snowden, de Oliver Stone, abre San Sebastian Festival

Snowden, um dos mais aguardados filmes da rentrée, terá honras de abertura da 64ª edição do Festival de San Sebastian (16 – 24 de setembro). O novo projeto de Oliver Stone acompanha a biografia de Edward Snowden e será apresentado na Selecção Oficial, fora de competição, em estreia Europeia.

No papel do controverso americano que decidiu trazer a público os programas de vigilância da NSA (National Security Agency) temos o versátil e competente Joseph Gordon-Levitt, presente em Inception / A Origem (2010), Looper – Reflexo Assassino (2012), Don Jon (2013) e The Walk: O Desafio (2015). A seu lado, a jovem Shailene Woodley (que deu nas vistas em Os Descendentes, 2011, e Divergente, 2014), Melissa Leo e Nicolas Cage. O guião de Stone, em parceria com Kieran Fitzgerald baseia-se no livro de Luke Harding The Snowden Files e na obra de Anatoly Kucherena Time of the Octopus.

Oliver Stone tem-se revelado um acutilante observador da realidade americana, ao acentuar dos seus erros e vícios. Depois de colocar o dedo na ferida na guerra do Vietname, com Platoon (1986) e Nascido a Quatro de Julho (1989), Stone abordou a presidência americana, com JFK (1991), Nixon (1995) e W(2008), bem como as contradições do mercado bolsista em Wall Street (1987), o trauma do 11 de setembro, com World Trade Center (2006) e 9/11; mas também na acutilante série para televisão The Untold History of the United States (2012-2013).

Desta vez, em Snowden ausculta o pulsar deste americano que optou por divulgar segredos secretos de Estado NSA e passar a viver em asilo na Rússia.

Sigourney Weaver apresenta A Monster Calls e recebe prémio de carreira

É assim todos os anos. Uma estrela de Hollywood desembarca em San Sebastian para captar a luz dos flashes fotográficos, trazendo normalmente na bagagem um novo filme para revelar. O festival devolve a simpatia com um prémio de carreira, o prestigiado Prémio Donostia. Este ano, a visada será Sigourney Weaver, a estrela de Aliens e Avatar, mas também com uma recente participação em Caça-Fantasmas II, sendo que o motivo principal da passagem pelo festival de cinema do país Basco completa-se com a estreia europeia de A Monster Calls, o terceiro filme do cineasta espanhol J.A. Bayona (O Orfanato e Impossível), a exibir fora de competição, e que, para além da star americana, conta ainda com a participação de Felicity Jones, Lewis MacDougall e Liam Neeson.

A atriz receberá então no dia 21 de setembro o Prémio Donostia na sessão de gala de A Monster Calls que decorrerá no Auditório Kursaal. O filme baseia-se na novela do mesmo nome, da autoria de Patrick Ness, narrando a história de Cooper, uma criança de doze anos que encontra na companhia de um monstro que o visita durante a noite a forma de lidar com a doença grave da sua mãe.

Esta será a terceira visita de Weaver a San Sebastian, depois de ali ter apresentado Alien, o 8º Passageiro, de Ridley Scott, em 1979, e O Mapa do Mundo, em 1999. Recorde-se que o Prémio Donostia é atribuído este ano pela 30ª vez, com a particularidade deser entregue pela 20ª vez a uma atriz.

Para além deste novo trabalho, veremos o que Miss Weaver terá para falar de algumas novidades, como a anunciada nova trilogia de Avatar que fará com James Cameron. Provavelmente, tudo estará ainda no segredo dos deuses, mas nunca se sabe…

Contudo, Sigourney Weaver não será a única a sair da La Concha com um prémio, o ator norte-americano, Ethan Hawke, será premiado com um galardão de carreira, numa cerimónia que decorrerá depois do visionamento de Os Sete Magníficos (no dia 17 de setembro), o qual contracena com Denzel Washington e Chris Pratt.

Gael García Bernal apresenta Neruda e recebe prémio Jaeger-LeCoultre

O ator nascido no México regressa a San Sebastian para receber pela primeira vez o Prémio Jaeger-LeCoultre, um galardão desenhado com o objetivo de distinguir uma personalidade do cinema de expressão latina. O prémio será atribuído ao ator no dia 17 de setembro, durante a cerimónia de apresentação do filme Neruda, de Pablo Larraín, exibido em estreia mundial no passado Festival de Cannes, na secção Quinzena dos Realizadores, onde Gael encarna a personagem do agente Óscar Peluchonneau, que persegue Pablo Neruda (Luis Gnecco).

Gael Garcia Bernal regressa assim a San Sebastian pela terceira vez. A primeira vez fora na sua estreia, com o filme Amor Cão, de Alejandro Iñárritu, em 2000, na secção Zabaltegi, regressando no ano seguinte, nada menos, com dois filmes, E a Tua Mãe Também, de Alfonso Cuarón, e com Vidas Privadas, onde Fito Páez competiu na secção Zabaltegi para os Novos Realizadores.

Ewan McGregor compete com American Pastoral, na secção oficial, a sua estreia na realização

American Pastoral, a estreia atrás das câmaras do escocês Ewan McGregor integra a secção oficial em competição do Festival de San Sebastian. McGregor regressa assim a SanSe depois de ter aqui sido galardoado com o prémio Donostia, em 2012, onde acompanhou O Impossível, do espanhol J.A. Bayona, que, por sua vez, abrirá o certame com A Monster Calls.

O filme baseia-se no romance de PhilipRoth, vencedor do prémio Pulitzer, sobre a jornada de uma família americana ao longo de várias décadas e conta ainda com a presença de Jennifer Connelly, no papel da sua mulher, e ainda Dakota Fanning, na filha do casal.

A carreira de Ewan McGregor tem sido seguida de perto em San Sebastian. Depois ali ter apresentado o seu filme Pequenos Crimes Entre Amigos, na estreia de Danny Boyle, em 1994, onde ganharia o prémio de melhor realizador, Ewan regressaria ao ecrã dois anos depois com Trainspotting, e ainda em 2004, com Moulin Rouge, também com a sua primeira visita ao festival. Regressaria depois, com Impossível.

Um outro ator com um presente muito relevante, já que, para além desta sua apresentação como realizador, adivinha-se que possa comentar a sua atual presença na rodagem de Transpotting 2.

O cinema urgente de Jacques Becker com retrospetiva integral em San Sebastián. O filho acompanha a apresentação

O cineasta francês Jacques Becker (1906-1960) pode ter apenas treze longas metragens na sua filmografia, isto ao longo de pouco mais de 20 anos, desde 1942 até ao ano da sua morte, mas, no entanto, é uma obra suficiente para o impor como uma figura incontornável do cinema francês, e à altura de nomes como de Jean Renoir, Jean Cocteau, Jean-Pierre Melville, Max Ophüls, Robert Bresson ou Jacques Tati. De resto, filmes como Casque d’Or (1952), Touchez pas au grisbi (1954) ou Le Trou (1960) são autênticos marcos do cinema.

Vincado por um cinema de forte componente social, Becker não refuta a influência de Renoir de quem Becker foi assistente de realização em oito filmes, incluindo A Grande Ilusão (1937), embora também entusiasta pelo cinema americano anterior à 2ª Guerra Mundial, com destaque para a obra de King Vidor ou Howard Hawks. Naturalmente, durante todo o período de ocupação e pós-guerra, o seu cinema sofreu uma inevitável depuração.

Esta retrospetiva organizada pelo Festival de San Sebastian em colaboração com a Filmoteca Espanhola contará com a presença de Jean Becker, filho do realizador.

LE COMMISSAIRE EST BON ENFANT, LE GENDARME EST SANS PITIÉ / PITILESS (Curta) (1935)

LA VIE EST À NOUS (documentário, 1936)

JACQUES BECKER, JEAN RENOIR, JACQUES B. BRUNIUS, HENRI CARTIER-BRESSON, ANDRÉ ZWOBADA, JEAN-PAUL LE CHANOIS

Filme de propaganda do Partido Comunista Francês.

GOUPI MAINS ROUGES / IT HAPPENED AT THE INN(1943)

FALBALAS / Noivado Sangrento (1945)

ANTOINE ET ANTOINETTE / O Toino e a Toninhas (1946)

RENDEZ-VOUS DE JUILLET / RENDEZVOUS IN JULY (1949)

ÉDOUARD ET CAROLINE / Eduardo e Carolina (1950)

CASQUE D’ OR / Aquela Loira (1952)

ALI BABA ET LES 40 VOLEURS / Ali Baba e os 40 Ladrões (1953)

RUE DE L’ESTRAPADE / História Parisiense (1953)

TOUCHEZ PAS AU GRISBI / O Último Golpe  (1954)

LES AVENTURES D’ARSÈNE LUPIN / Arsénio Lupin (1956)

LES AMANTS DE MONTPARNASSE / O Vagabundo de Montparnasse (1958)

LE TROU / O Buraco (1960)

Competição Oficial revela novos trabalhos de Bertrand Bonello, Hong Sang-soo e Arnaud des Pallières

São conhecidos os filmes concorrentes à seleção oficial para o concurso à Concha de Ouro, o prémio mais relevante do Festival de San Sebastian. Uma lista onde se incluem alguns nomes dos mais inovadores do cinema internacional, como os novos filmes de Bertrand Bonello, Hong Sang-soo, Fernando Guzzoni, entre muitos outros cineastas cujas obras cumprem descobrir-se.

Um filme muito aguardado é, precisamente, Nocturama, de Bonello, um cineasta habitual de Cannes, aqui com o tal filme que gira em torno deum grupo de jovens parisienses com um plano de fazer explodir lugares emblemáticos da capital. Naturalmente, um filme que recebe toda a carga e trauma após os atentados do Charlie Hebdo, em janeiro, e ao Bataclan, em novembro passado. Depois de ter sido recusado em Cannes  – talvez por isso mesmo? – Nocturama estreia no dia 31 em França e será seguramente um dos filmes mais quentes da competição em San Sebastian.

O multi-premiado cineasta coreano Hong San-soo trocou desta vez a Côte d’Azur pelo País Basco para apresentar o seu novo filme intitulado Dangsinjasingwa dangsinui geot/ Yourself and Yours, ao passo que o chileno Fernando Guzzoniaterra de novo em San Sebastian, desta feita com Jesus, depois de ali ganhar o prémio de realização com Carne de Perro, em 2012. Ausculta agora a relação entre pai e filho, bem como o pulsar de diferentes gerações chilenas.

Valerá ainda a pena salientar uma outra presença francófona, no caso, Arnaud des Pallières, em concurso à Palma de Ouro, em Cannes com Michael Kohlhaas, em 2013, fazendo-se agora representar em San Sebastian pela primeira vez, com Orpheline, acompanhando quatro momentos da vida de um quarteto de mulheres, num cast muito sugestivo, composto por Adèle Haenel (L’Apollonide), Adèle Exarchopoulos (A Vida de Adèle), Solène Rigot (17 filles) e Gemma Arterton (007: Quantum of Solace) e coadjuvado pelo espanhol Sergi López.

Aguardam-se também a presença de Johannes Nyholm (Jätten / The Giant), William Oldroyd (Lady Macbeth), bem como do jovem Miles Joris-Peyrafitte (As You Are), após receber um prémio em Sundance e do estreante William Oldroyd, depois de vencer a competição de curtas do Sundance London short, com a sua versão de Lady Macbeth.

Para além destes, há que contar ainda com quatro produções espanholas El hombre de las mil caras  (Smoke and Mirrors),de Alberto Rodríguez, Que Dios nos perdone (May God Save Us), de Rodrigo Sorogoyene La reconquista (The Reunion), de Jonás Trueba, para além da estreia na realização do ator britânico Ewan McGregor, com American Pastoral.

João Pedro Rodrigues leva Ornitólogo a San Sebastian

Mas não vai sozinho, já que na competição Zabaltegi-Tabakalera, pela primeira vez realizada, uma espécie de Un Certain Regard, de Cannes, ou Panorama, em Berlim, centrada em alguns dos filmes mais arrojados do ano, terá a companhia de nomes sonantes como Jeff Nichols (Midnight Special) ou ainda Todd Solondz (Wiener Dog) ou mesmo Jia Zhang-ke e Bertrand Bonello, que apresentarão curtas metragens.

Em todo o caso, o filme do cineasta português de 50 anos, é um dos mais aguardados, logo após a sua passagem em Locarno, onde recebeu o prémio de Realização. O Ornitólogo centra-se na figura de um observador de aves solitário à procura dos raros cisnes negros em risco de extinção, algures num rio na região norte, acabando por ser levado pela corrente e salvo por duas jovens chinesas em peregrinação a Santiago de Compostela. Ao tentar retomar o caminho envolve-se numa floresta onde acaba por ser colocado a vários desafios que acabam por o transformar.

Este é um projeto há muito acalentado por João Pedro Rodrigues, ele que se interessara primeiro pela observação de aves antes de se apaixonar pelo cinema.

Destaque ainda para Uncle Howard, de Aaron Brookner, que depois de concretizar o primeiro filme para iPad (The Silver Goat), sobre o seu tio Howard Brookner, bem como o trabalho da brasileira Marilia Rocha, A Cidade Onde Envelheço, exibido no festival de Roterdão, sobre o encontro de dois amigos portugueses numa cidade brasileira e sobre as formas diferentes como encaram a vida. O documentário Eat That Question: Frank Zappa in His Own Words é o resultado do relatosobre a vida e obra do músico de Baltimore, visto pelo norueguês Thorsten Schütte, autor dos documentários Ich, der King of Porn – Das abenteuerliche Leben des Lasse Braun e Namibia Generation X. Oportunidade ainda para ver o estranho relato sobre a solidão em  Zoologiya / Zoology, do russo Ivan I. Tverdovsky, sobre uma mulher a quem cresce uma cauda, vencedor do prémio do Júri em Karlovy Vary.

Por fim, o chinês Jia Zhang-ke apresentará a sua curta The Hedonists, ao passo que o francês Bertrand Bonello complementa a presença na Seleção Oficial (Nocturama) com Sarah Winchester, opéra fantôme, um híbrido entre o relato histórico e uma ghost story, com a particularidade de Bonello assegurar também a banda sonora.

Mas há mais a descobrir na secção Zabaltegi-Tabakalera, como os filmes de Bertrand Tavernier, a abrir a secção, bem como o mais recente filme de Terence Davies (A Quiet Passion), Lav Diaz (A Lullaby of the Sorrowful Mystery), Jim Jarmusch (Gimme Danger), Hayoun Kwon (489 Years), entre outros.

A vida de Jacques Costeau ilustrada em L’Odyssée encerra o Festival de San Sebastian

A estreia mundial de L’Odyssée / The Odyssey, um filme biográfico sobre Jacques Cousteau foi a escolha para o encerramento da 64ª edição do festival de San Sebastian. Esta produção orçada em 35 milhões de euros e dirigida por Jérôme Salle, acompanha as aventuras do famoso explorador aquático e da relação complexa com o filho Philippe, a bordo do navio Calypso, naquela que foi a sua maior aventura, antes de acontecer a tragédia.

Esta co-produção franco-belga assenta na adaptação das obras literárias Mon père, le Commandant Jacques-Yves Cousteau, de Jean Michel Cousteau e ainda Capitaine de la Calypso, de Albert Falco, e conta com a participação de um trio de intérpretes Lambert Wilson, no papel de Cousteau, Pierre Niney, como o seu filho, e Audrey Tautou, como a sua mulher.

San Sebastian mostra as melhores Pérolas do ano!

Na habitual secção Perlas o público que acompanha o festival de San Sebastian tem o contacto privilegiado com alguns dos filmes mais marcantes exibidos nas principais montras, como o festival de Cannes e Berlim, Veneza entre outros e que serão seguramente alguns dos melhores filmes a ver durante o ano.

Na luxuosíssima galeria para a 64ª edição do Donostia Zinemaldia (festival de San Sebastian) será possível filmes como I, Daniel Blake, de Ken Loach, como se sabe, é o mais recente vencedor da Palma de Ouro de Cannes, bem como Fuocoammare, de Gianfranco Rosi, sobre o drama dos refugiados em Lampedusa, vencedor do Urso de Ouro de Berlim. Mas há muito mais!

Por exemplo, o novo filme do francês François Ozon, Frantz, que será em Veneza em competição para o Leão de Ouro, tal como On The Milky Road, de Emir Kusturica. Já dos previamente selecionados para Berlim temos o tocante Little Men, de Ira Sachs, sobre a forma como dois pré-adolescentes lidam com os problemas dos pais e o seu próprio destino, bem como O Que Está Por Vir, da francesa Mia Hansen-Love, já estreado em Portugal. Bem como Florence Foster Jenkins, de Stephen Frears, com Meryl Streep no papel de uma herdeira e sociatlite nova-iorquina, a exibir no festival de Toronto.

O resto, nada menos que nove filmes, pertencem à programação do festival de Cannes. São os casos do sensacional Toni Erdmann, da cineasta Maren Ade, vencedor do prémio FIPRESCI, bem como Elle, de Paul Verhoeven, com Isabelle Hupert, Neruda, de Pablo Larraín, Sieranevada, Cristi Puiu, After the Storm, do cineasta nipónico Hirokazu Koreeda.

Por fim, duas animações, ambas muito aguardadas, Ma Vie de Courgette e La Tortue Rouge, de Claude Barras e Michael Dudok De Wit, respetivamente.

Pérolas

Elle, de Paul Verhoeven

Florence Foster Jenkins, de Stephen Frears

Frantz, de François Ozon

Fuocoammare, de Gianfranco Rosi

I, Daniel Blake, de Ken Loach

La Tortue Rouge, de Michael Dudokde Wit

O Que Está Por Vir, de Mia Hansen-Love

L’Économie du Couple, de Joachin LaFosse

Little Men, de Ira Sachs

Ma Vie de Courgette, de Claude Barras

On The Milky Road, de Emir Kusturica

Neruda, de Pablo Larraín

Sieranevada, de Cristi Puiu

Toni Erdmann, de Maren Ade

After the Storm, de Hirokazu Koreeda

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