Quinta-feira, 28 Março

Festival de Cannes lança programa centrado no papel da mulher no cinema

Numa parceria com a holding de artigos de luxo Kering, o Festival de Cannes vai lançar nesta sua 68.ª edição o programa paralelo Women in Motion, o qual  tem como principal intuito «celebrar o talento das mulheres no cinema e encorajar a reflexão da sua contribuição e o seu papel na industria». Com este novo programa, que acompanhará todo o Festival (13 a 24 de maio), ainda serão criados dois novos galardões, que apenas serão atribuídos a partir da edição de 2016 do Festival.

Quanto à natureza destas futuras distinções, uma será entregue a uma personalidade cujo trabalho contribua para a causa da mulher no cinema, enquanto que o outro terá o fim de premiar jovens realizadoras. Inserido no mesmo projeto, estão previstos inúmeros debates, as Women in Motion Talks, que se focarão na mulher na industria do cinema, realçando os inúmeros problemas e arquitetando soluções para uma maior presença feminina na Sétima Arte.

Thierre Fremaux, diretor artístico do Festival de Cannes, revelou em comunicado que «a contribuição da mulher na industria de cinema, à frente ou atrás das câmaras, é essencial e de um valor incalculável. Ao colocar este tópico na agenda, esperemos atribuir-lhes um maior reconhecimento ao seu trabalho…». Enquanto isso, Pierre Lescure, o presidente do Festival, frisou: «estamos a abrir um novo capítulo na História do Festival de Cannes e a pavimentar os caminhos do cinema de amanhã, enriquecendo-o com maior variedade e diversidade de pontos de vista e de filmes. Esta iniciativa corresponde perfeitamente a um novo ímpeto que desejamos transmitir à competição».

Apesar de frequentes críticas à programação do certame, o festival tem apostado cada vez no cinema sob o ponto vista feminino. Recordamos que no ano passado, o certame apresentou um recorde de 15 obras, todas elas dirigidas por mulheres e integradas na sua Seleção Oficial. Contudo, a escassez de trabalhos no feminino continua a suscitar acusações de sexismo, não só contra a organização do certame, mas também para toda a indústria cinematográfica.

Exemplo disso foram as palavras da cineasta Jane Campion, a única mulher vencedora da Palma de Ouro graças à sua elogiada obra O Piano. Durante o seu percurso como Presidente do Júri na edição anterior do Festival, ela afirmou: «Temos de dizer que a indústria do cinema é inerentemente sexista. O Thierry Fremaux disse-nos que apenas 7% dos 1800 filmes submetidos ao festival foram realizados por mulheres. E ele mostrou-se orgulhoso pelo facto do festival ter cerca de 20% de filmes realizados por mulheres em todas as suas mostras. Ainda assim tudo isto soa a algo nada democrático e as mulheres sabem disso.»

O ano passado ficou também marcado na programação do festival pelo workshop Girls Just Wanna Have Film!, organizado pelo European Audiovisual Observatory (EAO), que através de estudos estabelecidos sobre a influência feminina no cinema, concluíram que a imposição de quotas baseadas no género do realizador são a única forma de garantir uma estabilidade e o aumento de mulheres na indústria.

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