Quinta-feira, 25 Abril

Confissões em Veneza: Iñárritu e Oppenheimer marcam o primeiro dia do festival

A história assume novos contornos no festival que iniciou o circuito há exatamente 71 anos atrás. Apesar da perda de algum terreno para eventos como Cannes e Toronto, que frequentemente lhe roubam protagonismo e, mais importante, filmes, Veneza destaca-se da multidão por ser o grande resistente, pois 71 anos depois continua a recusar-se a seguir uma lógica de mercado e fechar o evento a uma indústria com tiques deveras elitistas.

Ciente desse cariz histórico, este ano o festival arranca novamente todas as sessões oficiais com a projeção de pequenos clips televisivos de edições do passado. Na grande maioria pouco mais representam do que uma oportunidade para a audiência distribuir aplausos e gritos a medida que Kurusowas, Orson Welles e Fellinis aparecem no ecrã, relembrado-nos a todos que foi Veneza que os descobriu e os tornou em mitos. Mas ao mesmo tempo, e bastante mais curioso, quando os clips se atrevem a exibir resumos das edições dos anos 30, somos deslumbrados com visões impensáveis: Himmler e Mussolini a saltarem triunfalmente de uma gôndola para um palácio do cinema coberto em suásticas. O desconforto na sala torna-se palpável, tornando a missão praticamente impossível para o filme que se segue.

Por falar em historia, ontem na abertura desta edição de 2014, estreou The Look of Silence (critica completa para breve), o novo filme de Joshua Oppenheimer, co-realizador do notório The Act of Killing. O realizador norte americano regressa a Indonésia, palco de algumas das maiores atrocidades do século XX, mas desta vez o cineasta foca a sua atenção nos familiares das vitimas, que são confrontados cara a cara com os criminosos que tão desafogadamente descreveram os seus crimes no primeiro filme.

O resultado, por mais incrível que pareça, é possivelmente mais arrojado do que em The Act of Killing, mas apesar desse facto e do buzz em redor do filme nos bastidores, as salas ontem estavam estranhamente vazias durante as exibições do filme, levando-nos a pensar que este ano em Veneza há pouco estômago para digerir filmes desta natureza.

Ainda no capitulo da historia, ontem também nasceu um novo mito. Se é verdade que Alejandro González Iñárritu esta longe de ser uma figura desconhecida, pouco antes da primeira exibição do seu novo filme, Birdman (critica do filme para muito em breve), ouviam-se comentários como “eu ate gostei do Amor Cão mas tal como os outros filmes são demasiados longos” ou “este gajo faz sempre o mesmo filme“. No final o impacto dificilmente poderia ser mais claro.

A cara de estupefação da multidão, os sorrisos de surpresa e as cabeças contemplativas da audiência, já para não falar nas varias discussões que o filme gerou pelos corredores o dia inteiro, Inarritu acabou de se tornar na grande figura do momento e alvo de louvores descontrolados, obrigando aqueles que se seguem a superarem-se para evitar serem eclipsados por completo.

Ontem houve ainda tempo para outras estreias, como os novos filmes de Kim Ki Duk (One on one), que segundo os rumores pouco acrescenta à enxurrada de dramas baseados em vinganças pessoais vindos da Ásia, e Larry Clark (The Smell of Us), que até agora apenas produziu um silêncio ensurdecedor nos bastidores de Veneza. A confirmar nos próximos dias.

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