Sábado, 20 Abril

Sexo e paganismo na abertura do FIDMarseille, Festival Internacional de Cinema

Arrancou no passado dia 2 o FIDMarseille, Festival Internacional de Cinema, que decorre em França até ao próximo dia 8 de julho, e que integra – para além da competição internacional, francesa e 1.ªas obras (ficção e documentário) – um laboratório (FIDLab), que na realidade é um espaço onde se discute projetos cinematográficos de maneira a dar aos cineastas a oportunidade de realizarem contactos com uma rede de produtores, distribuidores, agências, patrocinadores e exibidores em diversas plataformas.

Aleksei Fedorchenko diverte na abertura do FIDMarseille

A abrir o certame no passado dia 2 foi apresentado o último trabalho do russo Aleksei Fedorchenko, realizador de filmes como Silent Souls. Recuperado a região onde filmou essa obra, e pegando em 23 segmentos que acompanham as mulheres de Mari, uma povoação na região no norte da Rússia e que se distingue da restante nação pela manutenção das suas tradições pagãs, bem longe do moralismo cristão (católico ou ortodoxo), Fedorchenko convida o espectador a seguir uma série de histórias individuais ou coletivas que transpiram a sexualidade e o misticismo que já deu a este Celestial Wives of the Meadow Mari (Nebesnye zheny lugovykh mari) o apelido de Decameron do leste. Esse mesmo apelido acaba por justificar a inclusão do filme como obra de abertura do certame, pois um dos grandes momentos do FIDMarseille é mesmo uma grande retrospetiva e homenagem a Pier Paolo Pasolini – que em 1971 realizou esse mesmo filme.

Escusado será dizer que o espectador comum sentir-se-a como um ovni no meio das histórias aqui retratadas em modo calendário da população, muitas delas apresentadas de forma curta e onde o surrealismo transparece com a exposição à letra de muitos dos mitos e folclore da zona, como o da criatura que vive nas florestas, ou um pássaro comum numa ravina que habita a vagina de uma mulher amaldiçoada, ou ainda a mulher que perde o apetite pela vida a não ser que peça perdão a uma árvore.

É assim entre risos, alguma estupefacção mas sempre fascinio que o espectador se deixa envolver num filme que tem de ser visto para se crer.

Portugal no FIDMarseille

Para além de Lacrau de João Vladimiro estar na competição internacional, o certame apresenta ainda Ato de Primavera de Manoel De Oliveira, Cativeiro de André Gil Mata e Terra de Ninguém de Salomé Lamas. Esta última marca ainda presença no FIDLab com o seu projeto documental El Dorado – La Riconada, que acompanha 24 horas da vida de um mineiro que trabalha em La Rinconada, Peru, num velho sistema baseado na sorte que ainda se mantém em vigor nos Andes denominado de cachorreo, e que equivale a um cheque salarial dos tempos da escravatura em que o mineiro tem direito a um saco com rochas que poderá (ou não) conter uma pequena fortuna em ouro.

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