Segunda-feira, 6 Maio

Golshifteh Farahani, o sol na sua face mais aguerrida e feminina

Golshifteh Farahani, uma das guerreiras de As Filhas do Sol

Prestes a voltar às telas ao lado do poderoso Thor (aka Chris Hemsworth) em Dhaka, thriller de ação com o guião de Joe Russo (de Os Vingadores: Endgame), a atriz iraniana Golshifteh Farahani transformou-se, graças ao cinema, numa “cidadã do mundo”, alternando o persa que falava em About Elly, com filmes em francês ou inglês, incorporando o seu olhar olivado às paisagens europeias ou americanas. Aos 36 anos, a estrela do recém-lançado As Filhas do Sol (Le Filles du Soleil) tem um currículo de fazer inveja a muita estrela veterana, com direito a participações em filmes de Jim Jarmusch (Paterson), Abbas Kiarostami (Shirin), Marjane Satrapi (Galinha com ameixa), Ridley Scott (O Corpo da Mentira), Bahman Ghobadi (Half Moon), Rolland Joffé (Encontrarás Dragões) e Rachid Bouchareb (Just Like a Woman). Tudo isso antes de emprestar o seu carisma e a sua fúria à realizadora e atriz Eva Husson no seu controverso retrato de um exército de mulheres combatentes.

Tento levar uma vida alheia à badalação, ao deslumbre do estrelato, focando na força social de cada história que eu ajudo a levar aos ecrãs. Eva da-me, aqui, a tarefa de discutir o quanto a sororidade pode preservar vidas e fazer o mundo reconhecer o quanto ele pode ser desleal com as mulheres, ao institucionalizar o sexismo e o desrespeito de género“, disse Golshifteh ao C7nema, em Cannes, onde o seu rosto já é figura cativa.

Com 21 anos de carreira, ela é hoje um sinónimo vivo de inclusão cultural. “Venho de uma cinematografia que consagrou estéticas realistas, quase documentais, aberta a atores não profissionais. Tive a chance de lapidar uma forma de atuar, ainda em depuração, que vem de uma soma de vivências pessoais com técnicas muito rigorosas de escuta aos colegas de cena e aos problemas do mundo“, explicou a atriz, que vive a guerrilheira Bahar em As Filhas do Sol. “Ali, temos toda a asperidade do mundo“.

Neste drama de tónus feminino e feminista com DNA francês, nomeado à Palma de Ouro de 2018, Bahar comanda um esquadrão de guerreiras do Curdistão, em busca da Justiça e da liberdade dos seus maridos, filhas, filhos e parentes em geral. A trama mostra a sua vida num cárcere e a sua reinvenção como combatente armada até os dentes. A sua peleja é registada por uma repórter europeia (papel de Emmanuelle Bercot. Na Croisette, elas marcharam, há dois anos,num evento em prol do fim das práticas machistas e em nome da igualdade salarial.

Precisamos reagir. E precisamos observar as mulheres que reagiram“, disse Golshifteh. “Eu concordo com a Eva quando ela diz que não pode existir um heroísmo, não aquele das heroínas clássicas, nesta história, pois as próprias guerrilheiras não se veem dessa forma gloriosa. Há nobreza nelas, há um feito altruísta quase heróico. Mas a questão é sobreviver. A questão que importa é dignidade“.

Cercada de elogios pela sua recente participação em Arab Blues, de Manele Labidi Labbé, ela diz que atuar em múltiplos cantos do planeta é uma forma de “reeducação” geopolítica. “Não sou modelo de nada, sou aprendiz“, diz Golshifteh. “Aqui, ali e acolá, amplio o meu cardápio de sensações e da forma de se viver“.

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